ISSN 2359-5191

19/08/2016 - Ano: 49 - Edição Nº: 106 - Ciência e Tecnologia - Instituto de Biociências
Enzima bacteriana encontrada em grupo de amebas reforça teoria da endossimbiose
Ameba do grupo das Tecamebas, usadas na pesquisa Foto: D. Munaretto, 2011

Durante o desenvolvimento de uma pesquisa que analisa a evolução da meiose no grupo Amebozoa, o pesquisador Paulo Gonzalez Hofstatter, do Instituto de Biociências da USP (IB-USP), identificou uma estrutura com particularidades divergentes do padrão eucariótico. Enquanto apreciava um grupo de recombinases enzimas que participam diretamente da meiose Hofstatter observou que uma delas tinha características bacterianas. Examinando transcriptomas (mecanismo rápido e simples de obter sequências gênicas) de algumas amebas, o pesquisador concluiu que os genes que determinam a enzima haviam sido transmitidos diretamente para o genoma dos seres, ou seja, não provinham de uma herança genética.

Esta “transferência direta” indica que, em algum momento, um ser procarionte fez parte da célula amebiana; segundo Hofstatter, o mecanismo que possivelmente viabilizou o deslocamento dos genes foi a destruição de organelas, uma vez que o DNA da estrutura fica “solto” na célula e pode ser incorporado. Em outras palavras, existem claras evidências de que, bem como as mitocôndrias e cloroplastos, organelas de amebas também tenham procedência procariótica. “Esta recombinase mantém a forma, os princípios ativos e a função das bacterianas. Isto mostra que o gene veio ‘pronto’, configurando um nítido indício de transferência”, pontua o pesquisador.

Usando os transcriptomas das amebas e combinando-os aos de bactérias, vírus, algumas plantas e algas, Hofstatter elaborou uma árvore filogenética que registra toda a história evolutiva da recombinase em questão. A partir desta árvore, o pesquisador conseguiu identificar o trajeto da enzima desde sua origem bacteriana. Segundo ele, “alguns ramos eucarióticos da árvore surgem de grupos procarióticos, principalmente protobactérias e cianobactérias”. Hofstatter explica que isto evidencia as próximas relações evolutivas estabelecidas entre os dois grupos.

Apesar das novas evidências levantadas nesta pesquisa, não se pode dizer que a discussão sobre a endossimbiose é recente: a teoria original é de 1905, do russo Dmitry Merezhkovsky. Segundo Hofstatter, a validade do conceito já é basicamente um consenso entre a comunidade acadêmica e “existe um grupo irrefutável de indícios” para sua comprovação. Ele lembra, por exemplo, que tanto as mitocôndrias quanto os cloroplastos têm ribossomos bacterianos. As duas organelas apresentam, também, cromossomos circulares, típicos de bactérias. Por fim, ressalta que genes bacterianos já foram identificados não só nestas organelas, mas também no núcleo das células.

Paulo Hofstatter garante que a transferência de genes entre organismos é natural e prevista. Apesar da polêmica intrínseca ao termo, ele afirma que praticamente todo ser é “naturalmente transgênico”. Quanto à endossimbiose, o pesquisador reitera que o processo é fundamental para o estabelecimento da vida como conhecemos e declara que se trata de um evento evolucionário importantíssimo: “é uma testemunha da evolução”.

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