ISSN 2359-5191

22/08/2016 - Ano: 49 - Edição Nº: 107 - Arte e Cultura - Instituto de Estudos Brasileiros
Pesquisa investiga ampliação da visibilidade das artes brasileiras
Internacionalização dos sistemas de arte pode ser caminho para valorização das obras no âmbito global
A obra "Bacchanale" (Bacanal), de Auguste Rodin, foi uma doação de uma instituição nacional à Pinacoteca, agente que movimenta apenas 4% do mercado artístico.

Num contexto de globalização e fluxo de informação e materiais além fronteiras, a arte brasileira também está em trânsito constante entre países. Galerias, feiras, bienais ― tudo entra numa rede global e, como toda circulação de produtos e ideias, se sujeita à níveis diferentes de reconhecimento e importância. Essa segregação reflete e estimula a hierarquização entre as produções culturais de cada local. Uma maneira de aumentar seu alcance seria transbordar as fronteiras nacionais da gestão e divulgação dos acervos, eventos e peças do mercado artístico brasileiro. Essa tese é defendida por Ana Leticia Fialho, advogada, gestora cultural e pesquisadora do sistema das artes pelo Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo.

Ana foi coordenadora de Pesquisa e Consultora em Inteligência Comercial do Projeto Latitude, uma parceria entre a Associação Brasileira de Arte Contemporânea (ABACT) e a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (APEX). De acordo com sua pesquisa realizada em 2014, o mercado de arte registrou um crescimento de mais de 20% ao ano desde 2010, em grande parte graças aos colecionadores privados brasileiros, seguido pelos colecionadores privados estrangeiros. Juntos, esses agentes são responsáveis por quase 90% desse crescimento. Já as instituições brasileiras movimentaram no mesmo período em média 4% das vendas das galerias, sendo o restante consequência das instituições internacionais.

Imagem: Carolina Tiemi

Por conta da recessão econômica recente com a redução de recursos disponíveis no campo cultural e a carência de políticas e linhas de financiamento consistentes estatais, o mercado e as instituições apostam na participação dos colecionadores privados e do patrocínio de empresas para solucionar problemas, preencher lacunas e ampliar os seus acervos e sua produção. “Sem o engajamento desses agentes, o colecionismo institucional no Brasil seria quase inexistente”, afirma Ana.

Influenciados pela crise econômica internacional de 2008 e pela recessão europeia que ainda afeta fortemente a região, surge um movimento de expansão e descentralização da circulação da arte contemporânea, cujas fronteiras vinham sendo redefinidas desde a década de 80. Países de economia emergente, nesse contexto, se tornam mais atrativos para profissionais competitivos e especializados, que passaram a buscar recursos para viabilizar seus projetos e negócios para além da Europa e América do Norte. Assim, países que se encontravam nessa nova rede passaram a disputar maior visibilidade e poder nesse cenário.

Obra Cigana, de 1910. Doado em 1965 por Julieta de Andrada Noronha. Fonte: Pinacoteca

Apesar de uma maior visibilidade e participação no jogo internacional da arte contemporânea, "o Brasil ainda apresenta um descompasso entre as esferas da produção artística e do mercado de arte, cada vez mais profissionalizadas e internacionalizadas”, denuncia a pesquisadora. O que torna as instituições públicas ainda mais carentes de políticas adequadas e restritas a uma atuação local. Passado o momento regional positivo, quando se observou a multiplicação de equipamentos e vias de profissionalização (fenômenos vinculados à expansão do mercado), o crescimento do número de galerias, exposições e do volume de negócios gerados pelo mercado de arte, bem como a repercussão e divulgação dessas, cabe agora verificar se a visibilidade internacional alcançada foi temporária e coincidiu a um momento economicamente favorável, ou se iniciou um processo de reconhecimento da produção e internacionalização do sistema das artes mais amplo, e que prosseguirá mesmo em um cenário econômico menos favorável, como o que observamos atualmente.

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