ISSN 2359-5191

26/09/2016 - Ano: 49 - Edição Nº: 113 - Meio Ambiente - Instituto de Eletrotécnica e Energia
“Desinformação” é apontada como agravante do atual quadro ambiental
Professores da USP avaliam como a ausência de informação dificulta mudanças ambientais
A desinformação social. Fonte: Reprodução elo7. Editada.

Nos últimos anos pesquisas realizadas pelo IBGE têm mostrado que mais de 90% dos municípios brasileiros ainda enfrentam graves problemas ligados ao meio ambiente. Problemática frequente na agenda pública, as alterações ambientais, com destaque as ocorridas no espaço urbano, continuam a preocupar órgãos governamentais e sociais, evidenciando a necessidade de um maior debate em torno dessa questão. Na pesquisa Clima, ambiente urbano e qualidade de vida: um estudo sobre riscos e sustentabilidade na cidade de São Paulo professores do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) e da Faculdade Saúde Pública (FSP), ambos da USP, avaliam a participação popular nas questões ligadas ao meio ambiente, destacando como a “desinformação” se torna um agravante para o atual quadro ambiental.

O professor Wagner Costa Ribeiro aponta, no estudo, que “grande parte dos municípios brasileiros não pensam a questão ambiental como um tema fundamental”. De acordo com a pesquisa realizada pelo docente do IEE e do Departamento de Geografia da USP — em parceria com professores da FSP — a desinformação é o principal problema que contribui para a manutenção do atual panorama ambiental. Segundo o pesquisador, quando a população identifica um problema no ambiente, dificilmente essa o relaciona a uma alteração climática, ou a uma transformação do meio. “Geralmente, a sociedade acredita que tal adversidade seja apenas um resultado de uma falta de infraestrutura”, afirma o professor.  

O comportamento em questão, discutido na pesquisa, revela como a população não tem construído ligações entre as dificuldades de seu cotidiano e o problema ambiental mais amplo que as envolve. Nesse sentido, a desinformação é apontada pelo pesquisador como uma das principais causas para esse cenário, derivando de programas públicos e sociais que pouco discutem a sustentabilidade, com o aprofundamento exigido pelo tema. Para o professor, “não há hoje uma política clara focada na sustentabilidade”. Diversos órgãos governamentais, direcionados a regulamentação do meio, têm apresentado funções muito mais associadas a interesses particulares do Executivo do que realmente “voltadas para as questões socioambientais”. O licenciamento ambiental de empresas ligadas ao governo é, segundo Ribeiro, uma das principais atividades realizadas hoje por esses órgãos, distanciando-se daquilo que ele considera como principal função de tais instituições públicas.

Ao realizar seminários que reuniram lideranças da imprensa, da academia, dos movimentos de bairro e do poder público municipal, o grupo buscou debater a problemática ambiental nas diferentes ópticas desses setores. A pesquisa concluiu, com isso, a existência de uma reduzida interlocução entre os agentes públicos e sociais na questão do meio ambiente, colocando em risco o número de informações disponíveis para a sociedade. “É muito frequente você ver uma pesquisa, ou uma reflexão, na academia sobre determinado ponto, que não chega a um órgão público, por exemplo”, aponta ainda o pesquisador.  De acordo com o grupo, os resultados obtidos com a pesquisa eram esperados, uma vez que a principal intenção era comprovar a reduzida sensibilidade social para com as questões ambientais.  


Clima X Cotidiano


Trânsito e chuva na metrópole paulistana. Fonte: Levi Bianco/ Brazil Photo Press/ FolhaPress 

As alarmantes alterações no ambiente urbano se encontram relacionadas às transformações climáticas que municípios como São Paulo têm atravessado nas últimas décadas. Segundo o professor Ribeiro, as mudanças hoje observadas no clima contribuem, significativamente, para potencializar alguns dos tradicionais problemas enfrentados pelos paulistanos diariamente. O insuficiente saneamento básico e o trânsito estão entre os principais entraves destacados por ele. Tais problemas potencializam-se quando em cenários de irregular regime de chuva e de precário escoamento hídrico, uma vez que alimentam as constantes enchentes que assolam a região. “No caso do Brasil as condições climáticas vão, de fato, agravar as carências de nossas infraestruturas, em especial nas cidades”, afirma o professor, ao destacar a reduzida preocupação municipal com o meio ambiente.

Nessa perspectiva, o pesquisador ressalta a necessidade de um pensamento ao longo prazo que esteja mais atento às necessidades das futuras gerações. Ele aponta que é necessária uma maior preocupação com o legado a ser deixado para o futuro, uma vez que as principais consequências das mudanças realizadas hoje ainda estão por vir.

“Esperar por ações do governo que ampliem o debate ambiental não é a estratégia mais adequada. Hoje assistimos a um desinteresse dos governos em levar informações sobre a questão, produzindo [no máximo] três ou quatro cartilhas sobre o meio ambiente”, afirma o professor. O docente destaca, ainda, a necessidade de ações coordenadas por movimentos da própria sociedade, para que haja um maior engajamento dessa com a questão ambiental. “A virada sustentável, por exemplo, surgiu como uma ação de um grupo de jovens e hoje está na agenda do município de São Paulo, o que é muito importante”.

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