ISSN 2359-5191

26/09/2016 - Ano: 49 - Edição Nº: 113 - Saúde - Instituto de Ciências Biomédicas
USP desenvolve bactérias pesticidas
Pesquisadores do ICB buscam melhorar desempenho das plantas e reduzir riscos à saúde humana
Imagem: Reprodução

Manter a plantação livre de pragas sempre foi um dos principais obstáculos encontrados pelos agricultores para elevar a produtividade da lavoura e, consequentemente, aumentar a oferta de alimentos. Foi justamente com o intuito de promover uma solução para esse problema que os polêmicos agrotóxicos passaram a ser largamente utilizados no campo como forma de proteger os cultivos contra a ação de insetos, fungos, ervas daninhas ou qualquer outro tipo organismo que pudesse comprometer as colheitas. Embora os agrotóxicos cumpram seu propósito, pagamos um alto custo pela utilização dos defensivos agrícolas: dores de cabeça, vômitos e câncer são apenas alguns dos possíveis efeitos colaterais decorrentes da ingestão de alimentos carregados de produtos químicos. Felizmente, com o intuito de reduzir a carga de agrotóxicos em campos, plantações e estufas, Welington Luiz de Araújo e seu grupo de pesquisadores do Instituto de Ciências Biomédicas da USP, o ICB, estão desenvolvendo novas formas de controle biológico através de bactérias, que visam substituir os nocivos pesticidas químicos.

O laboratório de Welington trabalha com dois diferentes gêneros de bactérias: Burkholderia e Methylobacterium. A primeira destaca-se por sua capacidade de inibir o desenvolvimento de inúmeros agentes patogênicos, como fungos e outras bactérias, que provocam a morte ou debilitam a saúde das plantas. Ao serem introduzidas, as Burkholderia colonizam a superfície do vegetal, impedindo a provável instalação de outros microrganismos, e produzem antibióticos que inibem a proliferação de qualquer tipo de patógeno já testado pelo laboratório. A aplicação desta bactéria visa, fundamentalmente, realizar um controle biológico preventivo que reduza a carga de pesticidas em cultivos mais simples, como hortaliças, plantas ornamentais e orquídeas. “Para aquelas doenças que a bactéria controla não precisa aplicar pesticida, mas para aquelas que ela não controla precisa. A ideia é desenvolver um produto biológico em que se reduz a quantidade de pesticidas, principalmente em estufas, onde a pessoa está confinada naquele ambiente. Quando você aplica o pesticida, o ambiente todo fica contaminado. Reduzir o pesticida reduz o risco à saúde”, explica Welington.

A próxima etapa da pesquisa com Burkholderia consiste em avaliar se a bactéria produz impactos negativos em seres humanos e animais. O teste, que contará com a colaboração da Unicamp, será realizado em camundongos experimentais e deve se iniciar nos próximos meses. Caso se comprove que as bactérias realmente não representam nenhum tipo de risco a nós, restaria apenas um último desafio para o projeto: analisar a viabilidade do produto em escala comercial.


Já a Methylobacterium age conforme outros mecanismos e sua aplicação é destinada aos grandes cultivos, como soja, milho e arroz. Quando aplicadas na planta, essas bactérias produzem hormônios vegetais que promovem o crescimento radicular e, consequentemente, aumentam a absorção de água e nutrientes. A planta, portanto, ao receber hormônios de uma fonte externa, livra-se do custo energético e metabólico de produzi-los por conta própria e se desenvolve mais rapidamente. Experimentos realizados com laranjeiras indicaram que a aplicação desta bactéria acelera o crescimento da planta em até 20%. Outra vantagem decorrente da utilização de Methylobacterium é a capacidade que estas possuem de utilizar metanol como fonte de carbono ao invés do açúcar. As bactérias, portanto, protegem as plantas ao absorverem o álcool, uma vez que o metanol é um subproduto tóxico. “Quando você tem uma planta que usa menos adubo, que é mais saudável, por consequência ela também vai ter menos doenças. Mais saudável, mais resistente a doenças, menos pesticidas você tem que aplicar”, conclui Welington.

A pesquisa com Methylobacterium também segue em desenvolvimento. A próxima etapa conta com a colaboração da Embrapa, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, e busca desenvolver uma maneira de se introduzir as bactérias diretamente nas sementes. Este novo método pode potencializar ainda mais o desempenho hormonal das plantas em comparação com o atual método de aplicação foliar. A previsão é de que as pesquisas com ambas as bactérias sejam concluídas ainda neste ano.

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