ISSN 2359-5191

21/10/2016 - Ano: 49 - Edição Nº: 120 - Saúde - Faculdade de Saúde Pública
O que perdemos com a supervalorização de frutas estrangeiras
Mestrado estuda a biodiversidade de frutos nacionais e seus benefícios

Com objetivo de recolher dados sobre os recursos biológicos e genéticos das espécies brasileiras, o Ministério do Meio Ambiente desenvolveu um projeto denominado “Plantas para o Futuro”. Nele estão catalogadas espécies nativas com valor econômico atual ou potencial que serão priorizadas no desenvolvimento de pesquisas. O portfólio tem abrangência nacional e foi utilizado por Ricardo Jorge Silva Mendes no mestrado para compilar e divulgar os dados nutricionais de frutas nativas do Brasil.

Em sua dissertação intitulada Biodiversidade e composição de alimentos: dados nutricionais de frutas nativas subutilizadas da flora brasileira, Ricardo obteve dados nutricionais de 26 espécies frutíferas do Brasil catalogadas entre as “Plantas para o futuro”. Com os dados nutricionais das frutas subutilizadas compiladas, o mestre em nutrição pela Faculdade de Saúde Pública da USP realizou uma comparação qualitativa com as frutas contemporâneas mais adquiridas de acordo com a Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). São elas: banana-prata, laranja pêra, maça, mamão e melancia. Os resultados deixam claro o quanto os brasileiros perdem ao deixar as espécies nativas de lado, supervalorizando frutas estrangeiras.

Contrastes nutricionais e implicações na saúde

No Brasil, 10 milhões de pessoas sofrem com a osteoporose, doença que tem como uma das causas a baixa ingestão de cálcio. O diagnóstico é mais frequente em mulheres, o que não é tão surpreendente se levarmos em conta que 9 em cada 10 brasileiras não consomem a quantidade adequada de cálcio diariamente. A pesquisa de Ricardo traz dados valiosos para uma mudança nesse cenário: dentre as espécies nativas, a pesquisa catalogou que o mamãozinho, originário do sul do país, tem 89,5mg de cálcio a cada 100g. “Frutas como mamãozinho, tucumã-açu são fontes ricas em cálcio, nutriente cuja dieta brasileira não consegue suprir as necessidades diárias exigidas. A deficiência de tal nutriente acarreta o desencadeamento de osteoporose, que é um problema de saúde pública no País". O mamão, mais presente na mesa dos brasileiros, tem apenas 22mg/100g.

A vitamina C, grande aliada no combate de gripes e resfriados, é usualmente associada ao consumo de laranja. O camu-camu, originário do norte, tem 50 vezes mais vitamina C do que a laranja, “Além disso, a mangaba, jabuticaba e caju-do-cerrado têm valores três vezes maiores que laranja e limão”, ressalta o pesquisador.

A fibra alimentar que é considerada um fator de proteção contra as doenças crônicas não transmissíveis (obesidade, diabetes e doenças do coração) se destacou quando comparadas com as frutas contemporâneas, como mostra a figura. A dieta brasileira, segundo Ricardo, não consegue suprir os 25 gramas por dia de fibra proposto pelo Ministério de Saúde.

 

Desvalorização das frutas nacionais

O Brasil apresenta uma das maiores biodiversidades do planeta, abrigando mais de 20% da flora mundial. Contudo, Ricardo ressalta que nem sempre a disponibilidade de frutas implica no seu consumo. “Muitas razões explicam tal fato, porém o fator que mais se destaca é a cultura de não valorizar os alimentos locais e supervalorizar espécies estrangeiras.” O pesquisador acha que esse é também o motivo de poucas pesquisas serem desenvolvidas para conhecer melhor o valor nutricional e medicinal das espécies.

Com as comparações feitas no mestrado, o pesquisador chegou à conclusão que a presença das frutas brasileiras na dieta da população só traria ganhos, contribuindo para a melhoria da segurança alimentar no país e ajudando na preservação da biodiversidade brasileira. “Em termos gerais, todas as frutas nativas subutilizadas mostram melhores perfis nutricionais do que as frutas convencionais".

A pesquisa foi orientada pela professora Deborah Bastos e está disponível na Biblioteca da Faculdade de Saúde Pública da USP e nas teses online da Universidade.

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