ISSN 2359-5191

17/10/2016 - Ano: 49 - Edição Nº: 118 - Sociedade - Escola de Enfermagem
Professora da USP participa de longa sobre o estímulo neurológico na primeira infância
Filme circulou entre as principais capitais brasileiras e diversos países
Fonte: Eu Sem Fronteiras

Anna Maria Chiesa, professora do Departamento de Enfermagem em Saúde Coletiva (ENS) da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (EE/USP), atuou como consultora técnica e entrevistada de O Começo da Vida, longa documental que aborda a importância do estímulo amoroso e do cuidado responsivo para o desenvolvimento neurológico durante a primeira infância. Lançado no dia 5 de maio nas principais capitais brasileiras, o projeto é fruto de uma parceria entre a Fundação Maria Cecília Souto Vidigal (FMSCV), a Fundação Bernard van Leer, o Instituto Alana e o Fundo das Nações Unidas para a infância (Unicef).

Integrante da FMSCV desde 2008, a professora conta que conversou com a diretora Estela Renner em 2014, quando a ideia ainda era inicial. Juntas, elas puderam pensar em uma estrutura mínima de roteiro que abordasse as questões mais importantes da temática, além de pesquisar nomes para possíveis entrevistas. Segundo Anna Maria, a entrada do Unicef garantiu à narrativa um caráter internacional e imprescindível para a ampliação da discussão.

Foto: Eu Sem Fronteiras

O filme já deixou de ser reproduzido nos cinemas, mas pode ser encontrado no canal Netflix e na plataforma VideoCamp (junto de duas opções de esquemas para debates). Traduzido em cinco idiomas diferentes, ele apresenta uma linguagem inovadora a respeito de um assunto que ainda é vítima de certa desatualização: a primeira infância.

A ideia de buscar uma disseminação ampliada surgiu de uma pesquisa realizada pela FMSCV em parceria com o Ibope, ainda em 2012. Nela, descobriu-se que, para a maior parte da população brasileira, a criança não aprende nada até os seis meses enquanto estudos recentes apontam o contrário e falam sobre interação do feto desde o terceiro trimestre de gravidez. Com a problemática em vista, Anna Chiesa ressalta a necessidade de “comunicar isso não só para os profissionais, mas para a sociedade como um todo”. E acrescenta: “O filme em formato de documentário traz conhecimento científico, depoimentos e cenas onde a transmissão de que o cuidado é necessário é feita de um jeito muito mais fácil”.

A desinformação sobre a importância do contato com o bebê se dá, sobretudo, ao histórico da saúde infantil no país. Até pouco tempo atrás, a mortalidade dessa faixa etária era extremamente elevada e os primeiros dias de vida eram considerados um período de grande vulnerabilidade para infecções letais. Devido a isso, criou-se a ideia de que os cuidados durante a fase inicial da criança deveriam ser feitos com a menor interação possível. As estatísticas melhoraram, e a preocupação profissional passou da sobrevivência para a qualidade de vida infantil.

Para a professora da EE, “um desenvolvimento integral cria as bases para a saúde física, emocional e social de um indivíduo”. Isso porque com ele é possível diminuir índices de dislipidemia, diabetes e doenças metabólicas comuns para grande parte da população adulta. Além disso, problemas relacionados a agressividade e internação por doenças mentais também podem melhorar.

Práticas que não se limitam ao atendimento das necessidades básicas são essenciais para o aprendizado infantil, pois encorajam progressivamente a construção da autonomia da criança. Estímulos sensoriais (através do toque, som ou cores), demonstrações de carinho e conversas são intervenções de baixo ou nenhum custo que podem ser feitas por qualquer um em contato com o bebê sejam pais, avós, cuidadores ou parentes. “O brincar não precisa necessariamente ser feito com um brinquedo”, relembra Anna Chiesa. “Para o bebê, ter um adulto responsivo (que responda aos interesses e manifestações dele) é mais importante do que ter um brinquedo que custou caro”.

Foto: Eu Sem Fronteiras

Esses hábitos, apesar de bem simples, são muitas vezes inacessíveis a certas famílias. O filme parece perceber o problema ao mostrar a história de Phula, uma menina de dez anos responsável por tomar conta dos afazeres de casa e de seus dois irmãos pequenos e cuja rotina desgastante lhe roubava a infância.

Sobre os pequenos

Anna Chiesa possui grande familiaridade com o tema. Participou da fundamentação do programa sobre primeira infância da Fundação Maria Cecília Souto Vidigal e desde então apoia políticas públicas sobre o cuidado materno-infantil em municípios do estado de São Paulo. Já realizou também uma pesquisa da Fapesp para estudar o papel da universidade na translação do conhecimento de primeira infância.

Além disso, Chiesa coordena um projeto denominado “Nossas Crianças, Janelas de Oportunidades”, que tem como principal objetivo conscientizar a sociedade sobre a importância do afeto no desenvolvimento infantil: “Quando a criança nasce, ela está em um ambiente hostil. Então, é importante o cuidado permeado pelo afeto”.

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