ISSN 2359-5191

26/10/2016 - Ano: 49 - Edição Nº: 122 - Saúde - Faculdade de Saúde Pública
Pesquisa mapeia o comportamento da AIDS em São Paulo
Doutorado defendido na FSP estudou a evolução da epidemia entre 1980 e 2013

Desde o início da epidemia da aids no mundo, 656.701 casos foram registrados no Brasil, sendo os primeiros sete no estado de São Paulo. Na época, década de 80, a doença ainda era associada à comunidade homossexual e denominada pela imprensa como “Peste Gay”. Com o passar dos anos e novas descobertas da ciência, o preconceito foi perdendo espaço e respaldo: 47% dos infectados são heterossexuais, segundo dados divulgados pelo Seade (Sistema Estadual de Análise de Dados) em 2015.

Procurando traçar o caminho da doença no município de São Paulo, não apenas para uma melhor compreensão da aids, mas também para ajudar no desenvolvimento de políticas públicas, a médica infectologista e epidemiologista Alessandra Cristina Guedes Pellini desenvolveu sua tese de doutorado Evolução da epidemia de Aids no município de São Paulo - 1980 a 2012: uma análise espacial com múltiplas abordagens, pela Faculdade de Saúde Pública da USP.

A pesquisa

Com cunho exploratório, o objetivo do trabalho de Alessandra foi mapear o caminho da doença pelo município, mas não os motivos pelos quais ele se deu: “É importante ressaltar que o nosso trabalho não teve como finalidade estudar as causas dos aglomerados espaciais ou espaço-temporais da aids, mas, sobretudo, apontá-los, de modo que os órgãos governamentais responsáveis pelas políticas relacionadas ao agravo pudessem propor ações direcionadas às regiões mais problemáticas e aos grupos com maior risco de adoecer e morrer em função da doença.”

Os dados encontrados mostram que a doença tem uma distribuição espacial diferente entre os sexos feminino e masculino. “De forma geral, considerando todo o período estudado, independentemente da análise do tempo, nas mulheres chamou a atenção a concentração da aids na região Norte da cidade, e nos homens, na área mais central.”

Existem diferenças também na forma de transmissão. Entre as mulheres, a transmissão sexual heterossexual foi mais relevante. O dado, além de derrubar as abordagens midiáticas homofóbicas da década de 80, diz sobre a condição feminina na sociedade. “Algumas questões relacionadas às desigualdades de gênero e exclusão social podem levar a um menor acesso ao conhecimento, menor renda e, consequentemente, maior vulnerabilidade ao HIV/Aids. Um exemplo dessa situação é quando as mulheres sofrem violência sexual no ambiente doméstico, e não possuem condições de se proteger contra a transmissão do HIV.”

O estudo feito pela médica foi pioneiro em demonstrar de maneira quantitativa a associação entre os piores indicadores sociodemográficos (coletados no Censo Demográfico do IBGE de 2010) e a mortalidade por aids. “Os indicadores sociodemográficos do IBGE que mais influenciaram na mortalidade por Aids em nosso estudo estão relacionados com os domicílios. Por exemplo, a baixa “proporção de domicílios particulares permanentes próprios e quitados ou em aquisição”, e a maior “proporção de domicílios coletivos” foram indicadores associados à maior mortalidade por aids no município de São Paulo.”

Redução da contaminação

Segundo Alessandra, as políticas públicas voltadas para o tratamento e a prevenção da aids culminaram na redução da contaminação. “As políticas resultaram em uma queda global da incidência de aids, principalmente a partir de 1996, quando foi iniciada a distribuição gratuita da terapia antirretroviral, pois os indivíduos infectados pelo HIV em tratamento passaram a ter cargas virais mais baixas, com consequente redução da transmissão do vírus.”

Além disso, com o maior acesso à informação sobre a doença, bem como a distribuição de camisinhas e oferecimento de testes rápidos para o diagnóstico do HIV, a tendência é que a contaminação continue em queda.


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