ISSN 2359-5191

17/11/2016 - Ano: 49 - Edição Nº: 134 - Saúde - Faculdade de Medicina
Pesquisa testa software que melhora habilidades fundamentais para o bom desempenho escolar
Programa de Escuta no Ruído é um jogo que estimula habilidades linguísticas, auditivas e cognitivas
Fonte: Children's House International Adoptions

Com o objetivo de disponibilizar uma ferramenta de treinamento auditivo para crianças em idade escolar, Karenina Calarga, pós-graduanda na Faculdade de Medicina (FM) da USP, criou a versão brasileira de um software que estimula habilidades importantes no processo de aprendizagem. A pesquisa foi apresentada em maio deste ano como sua dissertação de mestrado, defendida pelo Departamento de Fonoaudiologia, Fisioterapia e Terapia Ocupacional (Fofito) da faculdade.

O Programa de Escuta no Ruído (PER), como foi batizada a ferramenta, é uma tradução do software canadense Logiciel d'Écoute dans le Bruit, originalmente em francês. A partir de estímulos verbais, como histórias e jogos de palavras, emitidos simultaneamente a um ruído semelhante ao barulho de um restaurante movimentado, o programa treina o processamento auditivo enquanto estimula habilidades linguísticas e cognitivas das crianças.

De acordo com Karenina, o processamento auditivo é a interpretação que o cérebro faz a partir daquilo que a pessoa escuta. Ele é composto por diversas habilidades, como prestar atenção em uma conversa sem que ruídos ou vozes externas interfiram na sua compreensão ou integrar informações que chegam através de orelhas diferentes. “Isso tem grande influência no ambiente escolar”, afirma a autora da pesquisa. “É uma queixa muito recorrente: às vezes a criança quer se concentrar na aula, mas não consegue deixar de prestar atenção na conversa dos amigos do lado.”

No estudo realizado por ela, 22 crianças entre 9 e 10 anos foram submetidas ao treinamento com o PER, enquanto outros 20 escolares da mesma faixa etária permaneceram como grupo controle, sem realizar as atividades. Nenhum dos participantes havia sido diagnosticado anteriormente com algum transtorno do processamento auditivo, tampouco apresentava queixas escolares. Após o período de pesquisa, o grupo treinado apresentou uma melhora significativa na maior parte das habilidades avaliadas em comparação com o grupo controle, inclusive na capacidade de compreensão da fala comprimida, atenção e manipulação dos sons da fala.

Pessoas que têm dificuldades de processar diferentes estímulos auditivos simultaneamente podem apresentar Transtorno do Processamento Auditivo Central (TPAC). O distúrbio é uma condição que afeta o sistema neurológico e faz com que o indivíduo, apesar de ouvir perfeitamente, não consiga compreender aquilo que escuta com facilidade, especialmente em ambientes ruidosos.

Os resultados da pesquisa realizada por Karenina apontam positivamente para o possível uso do software no tratamento de crianças com TPAC, hipótese que está sendo investigada em outro estudo do Laboratório de Pesquisa e Prática em Neuroaudiologia da Fofito. De acordo com ela, a cognição é um fator que influencia diretamente o processamento auditivo. “Se a gente tem um vocabulário amplo, uma linguagem bem desenvolvida, uma boa memória e atenção é mais fácil decodificar palavras corrompidas pelo ruído e fazer o fechamento auditivo”, diz. Esta última habilidade corresponde à capacidade de reconhecer e compreender palavras ainda que algumas sílabas ou fonemas não estejam presentes.

A autora da dissertação também acredita que o PER possa ajudar jovens com dificuldades de aprendizagem ou até mesmo Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). Ao contrário do TPAC, o TDAH não está relacionado a uma dificuldade no processamento auditivo, e sim a uma condição neurobiológica caracterizada por sintomas de desatenção, inquietude e impulsividade. A Associação Brasileira do Déficit de Atenção estima que, no país, 3 a 5% das crianças apresentem o distúrbio. No tratamento, frequentemente são usados jogos de memória, paciência e concentração, habilidades que também são estimuladas pelo PER.

Karenina conta que uma de suas principais preocupações ao realizar a pesquisa foi testar a jogabilidade do programa, tentando fornecer às crianças o mínimo de informações possíveis. “A ideia era investigar quão auto-explicativo o software era. Assim, conheceria a viabilidade de aplicá-lo sem a presença de um profissional”, afirma. No futuro, ela espera que programas como o PER possam ser disponibilizados gratuitamente à população. O uso de aplicativos para smartphones e tablets, de acordo com ela, tornou-se uma tendência para jogos educativos, pois são tecnologias mais acessíveis para a população. “Porém, o PER ainda é só um software para Windows”, ressalta a pesquisadora.

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