ISSN 2359-5191

28/03/2001 - Ano: 34 - Edição Nº: 02 - Sociedade - Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade
Cursos de Economia deveriam enfatizar mais a retórica

São Paulo (AUN - USP) - A economia é uma ciência em que os procedimentos de validação empírica de uma teoria são fracos. Assim, a retórica funciona como instrumento fundamental para se convencer o poder público e a sociedade em geral de uma determinada vertente de política econômica. Apesar disso, os principais cursos de economia do país negligenciam a matéria quando da elaboração dos currículos escolares.

A constatação foi feita pelo economista Darwin Sallas Dib, que defendeu sua dissertação de mestrado "A Controvérsia do Planejamento na economia brasileira: a retórica como instrumento de formação de crenças" no último dia 9, na FEA.

A dissertação analisa a Controvérsia do Planejamento, ocorrida de meados da década de 1940 ao fim do Estado Novo entre Roberto Simonsen e Eugênio Gudin, economistas de grande expressão no país. A análise confirma que a relevância da retórica na formação de crenças, já identificada internacionalmente, aplica-se também nas teorias econômicas brasileiras. "A estratégia retórica é absolutamente fundamental em economia, tanto fora do ambiente acadêmico – como acontece na Controvérsia do Planejamento – quanto dentro dele", assegura Darwin.

Entretanto, a estratégia retórica não tem merecido a devida atenção no processo de formação de economistas no Brasil. Na FEA, por exemplo, ela é estudada superficialmente, como parte da disciplina Metodologias Econômicas. O economista cita ainda, para exemplificar o descaso com o ensino da retórica em instituições de renome, a Unicamp e a FGV-SP (que oferece mestrado em economia).

Darwin acredita que a análise da Controvérsia e do comportamento dos debatedores exemplifica claramente a exigência de inteligibilidade do economista no momento em que pretende formular diretivas de política econômica e, portanto, cumprir seu papel profissional além dos muros da comunidade acadêmica.

De acordo com sua tese, o uso da retórica está presente em qualquer conversação na qual haja o intuito de convencer o interlocutor pela da adaptação da mensagem às crenças pré-estabelecidas na mente do receptor. O exercício da investigação científica não está alheio ao uso da retórica na medida em que, além de todos os procedimentos metodológicos, é necessária a habilidade de se comunicar e convencer a comunidade que forma, em última instância, aquele ramo de pesquisa.

No caso da economia há uma outra característica que potencializa o uso da retórica: a importância da atividade extra-acadêmica dos economistas. Eles precisam saber se expressar claramente se quiserem ver suas teorias econômicas validadas politicamente. "Eu espero que meu trabalho contribua para que o ensino de metodologia nas escolas de economia incorpore a idéia de McCloskey de que um instrumento importante em economia é o uso da retórica", conclui.

O estudo da importância da retórica na economia foi introduzido pelo economista Donald McCloskey em 1985. Desde então surgiram outros trabalhos relacionados ao tema, mas a tese de Darwin é a primeira a tratá-lo no âmbito nacional.

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