ISSN 2359-5191

28/04/2004 - Ano: 37 - Edição Nº: 03 - Ciência e Tecnologia - Instituto de Física de São Carlos
Língua eletrônica brasileira é mil vezes mais sensível que paladar humano

São Paulo (AUN - USP) - - Em artigo publicado recentemente na revista européia Sensors and Actuators B, um grupo de pesquisadores brasileiros demonstrou que a “língua eletrônica” é capaz de identificar, com 100% de acerto, diferentes amostras de vinho. Apesar de se encontrar ainda em desenvolvimento, esse avanço nos sensores artificiais de paladar confirma as possibilidades de utilização comercial dessa tecnologia.

Há dois anos os sensores gustativos desenvolvidos pela tecnologia nacional vêm aumentando significativamente a sensibilidade da “língua eletrônica”. Apesar das pesquisas apresentadas por grupos no Japão, Rússia, Itália e Suécia, os dispositivos brasileiros ainda apontam os melhores resultados.

De acordo com o pesquisador do Instituto de Física de São Carlos (USP), Osvaldo Novais de Oliveira Junior, a análise artificial do “paladar” em diferentes líquidos é baseada na condutividade elétrica entre o material dos sensores e o líquido analisado. A diferença na resposta elétrica entre as unidades sensoriais serve como uma impressão digital para o reconhecimento da substância analisada. Logo, a pequena espessura do filme utilizado no dispositivo de tecnologia nacional, oito mil vezes mais fino do que um fio de cabelo, aumenta a sensibilidade e permite uma percepção rápida e acurada das variáveis dos líquidos.

Dessa forma, o sensor consegue identificar sistemas líquidos de forma simples e rápida, sem necessidade de minuciosa análise laboratorial. A capacidade de reconhecimento dos “sabores” é dada pelo uso de redes neurais em uso conjunto com os sensores gustativos. No caso do teste publicado pela equipe brasileira, a “língua eletrônica” aprendeu o gosto de seis tipos de vinhos e identificou corretamente todas as 900 amostras analisadas.

Em um experimento anterior, o dispositivo diferenciou precisamente quatro amostras: chá de camomila, chá de camomila com mel, café industrializado e café torrado em casa. Hoje os sensores são capazes de classificar até diferentes tipos de água pura.

Os provadores profissionais, no entanto, não precisam se preocupar com a nova tecnologia. Segundo o professor Osvaldo, “não dá pra dispensar o sommelier porque ele é quem vai dizer se o vinho é bom ou não”. A “língua eletrônica” pode identificar as diferentes propriedades dos líquidos, mas é incapaz de julgar o valor das bebidas.

A utilidade prática dessa tecnologia está na possibilidade de monitoramento de qualidade da água e de outros líquidos de consumo humano. Na Inglaterra e na Malásia, por exemplo, sistemas semelhantes buscam avaliar a qualidade do leite. A possibilidade de análise de líquidos permite ainda imaginar utilidades menos saborosas, “embora o nome seja ‘língua’, [o sistema] pode ser usado em exames de sangue ou urina”, explica o pesquisador da USP.

No Brasil, a pesquisa dos sensores gustativos artificiais é um trabalho integrado entre o Instituto de Física de São Carlos (USP), o Instituto de Matemática e de Computação de São Carlos (USP), a Escola Politécnica (USP), a Faculdade de Ciências e Tecnologia (UNESP) e a Embrapa Instrumentação Agropecuária de São Carlos.

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