ISSN 2359-5191

28/04/2004 - Ano: 37 - Edição Nº: 03 - Educação - Instituto de Química
Pesquisa tenta tirar má fama da química

São Paulo (AUN - USP) - A Química é uma das disciplinas que acompanham o aluno em sua vida escolar desde a oitava série até o final do Ensino Médio, e para muitos, durante todo esse tempo ela se assemelha a um bicho de sete cabeças. O GEPEQ (Grupo de Pesquisa em Educação Química), do Instituto de Química da USP, realiza uma pesquisa que busca reverter o que provavelmente não passa de má fama.

Essa fama é muitas vezes transmitida aos mais jovens por aqueles que já passaram por esse mundo de fórmulas e elementos de nomes estranhos. Considerando-se esse esforço em perpetuar a repulsa à Química geração após geração, pode-se pensar que um dos responsáveis por esse sentimento é o modo como essa disciplina é ensinada há muito tempo.

Ao longo da pesquisa, que foi iniciada em 1984, o GEPEQ já produziu três livros didáticos para o Ensino Médio, além de diversos trabalhos de divulgação científica que procuram analisar questões do cotidiano ao mesmo tempo em que ensinam conceitos químicos. A professora Maria Eunice Ribeiro Marcondes, que lidera esse trabalho do GEPEQ, atribui boa parte das dificuldades no aprendizado da Química à natureza abstrata de muitos dos conceitos químicos e de sua ligação com a matemática, outra disciplina bastante rechaçada pelos alunos em geral. Além disso, critica o fato de a disciplina ser ministrada de forma descontextualizada. “A Química, como é ensinada hoje, não procura trazer para a sala de aula as relações que ela tem com questões e problemas ambientais, com questões do desenvolvimento industrial, da tecnologia”, diz a professora. Afirma também que ninguém é naturalmente avesso a determinada matéria. A curiosidade é uma característica inerente à criança, mas “a escola vai bloqueando esse tipo de comportamento.”

Para tentar eliminar esse bloqueio, a pesquisa segue uma linha construtivista, tendência de ensino que teve suas origens nos estudos desenvolvidos pelo suíço Jean Piaget e é ainda bastante celebrada por parte dos educadores. Em oposição ao método tradicional, que coloca o aluno como receptor passivo das informações passadas pelo professor, o construtivismo propõe um aluno ativo, um diálogo ao invés do monólogo característico das aulas expositivas. Contrapondo esse método convencional, a professora diz que “o conhecimento não é dado, ele é construído”. Além disso, diz que “o ensino tradicional tem o aluno como uma tábula rasa”, enquanto, no método proposto, as suas concepções prévias são levadas em conta, “o próprio aluno vai criar um modelo explicativo e, a partir daí, resolver problemas.”

O modo de ensino desenvolvido pelo grupo encontra alguns obstáculos de diferentes naturezas. Embora muitos professores aprovem esse modelo, muitos não se sentem seguros para ministrar aulas dessa forma. Outros são renitentes quanto a abrir mão de serem os únicos detentores da informação. Outro problema é de ordem operacional e financeira. As aulas propostas pela pesquisa têm nas atividades práticas (entenda-se aí experiências em laboratórios, oficinas temáticas, pesquisas de campo etc.) aliadas importantíssimas para o aprendizado, e, como é sabido, a maioria das escolas públicas “não têm estrutura para isso atualmente.” A questão financeira dificulta ainda sob outro sob outro aspecto a implantação do novo sistema de ensino. As escolas “oferecem resistência a essa linha” porque para elas o antigo método “é mais fácil”, já que “não precisam pagar ao professor horas de preparação de aula.”

A professora Maria Eunice ainda chama a atenção para o perigo de uma tendência das escolas públicas em São Paulo, que têm aberto seus portões nos fins-de-semana como um espaço de lazer para as famílias. “A escola pública quer se integrar à comunidade ‘quebrando os muros’, mas há um formalismo que está sendo deixado de lado”, e esse é justamente a qualidade do ensino. Afinal, de nada adianta sociedade e escola integradas se a função primordial dessa tem o baixíssimo nível que vemos hoje.

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