ISSN 2359-5191

26/05/2004 - Ano: 37 - Edição Nº: 06 - Meio Ambiente - Instituto de Biociências
Pesquisa quer entender a diversidade de aves brasileiras

São Paulo (AUN - USP) - Pelo mundo afora, o Brasil é lembrado por sua grande diversidade biológica. Mas por que o país possui biomas tão ricos, enquanto isso não ocorre da mesma forma em todos continentes? Estudando a evolução de alguns gêneros de aves, o grupo de pesquisadores coordenados pela professora Anita Wajntal, do Instituto de Biociências da USP, tem chegado a conclusões que podem contribuir para explicar a grandeza do espólio natural brasileiro.

O interesse maior nesses estudos envolve aves neotropicais, ou seja, que se diferenciam na fauna brasileira.  No início, os pesquisadores concentravam-se em araras e papagaios. Posteriormente, os estudos foram ampliados para tucanos, gaviões e cracídeos (parentes remotos da galinha).

Nessas famílias, o grupo procura investigar como se deu a evolução e a formação de novas espécies a partir de estudos de genes. No momento o trabalho desenvolve-se juntamente com a biogeografia. A partir da constatação de diferenças em dadas seqüências genéticas dessas aves, pode-se determinar quem é mais próximo de quem dentro da gama de espécies estudadas. A biogeografia possibilita ainda que se descubra há quanto tempo duas espécies divergiram evolutivamente. Para isso, os pesquisadores contam com o auxílio de artigos publicados por geólogos e biogeógrafos, na definição do que teria ocorrido em determinadas eras da história da Terra.

“As datações e as épocas que constatamos para as quatro famílias estudadas mostram os fatores que possivelmente foram importantes na diversificação das aves no Brasil”, afirma a professora Wajntal. Ela cita como exemplo uma das pesquisas desenvolvidas, que analisa a evolução de determinado grupo de espécies cujos nomes não quis revelar.

A diversificação entre as espécies desse agrupamento, estimada a partir das diferenças em seqüências de DNA, iniciou-se há cerca de 3,8 milhões de anos. Num período interglacial, havia maior pluviosidade e degelo. O nível do mar subiu, cobrindo as terras com altitudes inferiores a 180 metros do nível atual. Na América do Sul, as águas cobriram toda a bacia do Prata, a bacia do Orenoco e a bacia Amazônica. Emersos permaneceram apenas os Andes, o Escudo das Guianas, o Escudo Brasileiro e a Serra do Mar. Essa transgressão marinha separou esse tipo de ave em diversos grupos, que se isolaram nas áreas mais altas ao longo de matas ciliares, pois são aves de habitat florestal. Com isso, formaram-se novas espécies nessas regiões, e cada uma seguiu sua própria trilha evolutiva.

Atualmente, esse gênero antigo está representado por cinco espécies localizadas na Serra do Mar, no leste dos Andes, no Norte e no Sul da Amazônia (até o Pantanal) e na ilha de Trinidad. As diferenças de DNA nessas espécies e as datações coincidem com a hipótese de diversificação analisada pelos pesquisadores. O estudo já está em fase de publicação.

O grupo dedica-se também à conservação das aves, inclusive com trabalhos em parceria com o Ibama. Os dados das pesquisas ajudam a identificar quais são as espécies ameaçadas e que merecem maior atenção para a preservação. A professora Wajntal explica que ações para a proteção de aves em extinção contam ainda com um outro fator essencial. “As pessoas geralmente se orgulham das aves que vivem na região onde moram. Por isso, torna-se mais fácil a mobilização popular, o que contribui para o sucesso dos programas de conservação implementados”, diz ela.

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