ISSN 2359-5191

11/08/2004 - Ano: 37 - Edição Nº: 07 - Saúde - Instituto de Pesquisas Energéticas
Luta contra o tempo na Medicina Nuclear

São Paulo (AUN - USP) - Toda semana, de terça à sexta, por volta das nove horas da manhã, cerca de 30 pessoas fazem exames no aparelho PET - sigla em inglês para tomografia por emissão de pósitrons - do Hospital Sírio Libanês, usado para diagnósticos oncológicos, neurológicos e cardiológicos. Recebem antes via injeção o FDG, flúor-desóxi-glicose, e ficam no aparelho de 30 a 80 minutos para fazer o exame, dependendo do tipo de patologia. O resultado sai em dois dias úteis.

Para aqueles que tornaram o exame possível, dois dias é uma eternidade: correspondem a 2.880 minutos, mais de 26 vezes o tempo que os responsáveis pelo elemento emissor dos pósitrons têm antes que esse átomo radioativo, o flúor-18, tenha sua atividade diminuída pela metade. É a chamada meia-vida: depois de 110 minutos, a quantidade de flúor radioativo é apenas metade da inicial. Mais 110 minutos e só restam 25% da amostra de quatro horas antes.

Os profissionais que produzem, embalam e entregam o FDG, molécula em que se encontra o flúor-18, trabalham contra o tempo. Às quatro horas da manhã, o Centro de Aceleradores Ciclotron, do Ipen, começa a irradiação do flúor dentro de uma célula de chumbo que protege todos da radiação. Essa etapa dura cerca de 110 minutos, como a meia-vida do elemento; a partir desse período, a quantidade de decaimento se equivale à de enriquecimento e é inútil dar continuidade ao processo. O material é levado para outra célula, onde acontece a marcação, isto é, o flúor-18 é colocado em uma molécula de glicose, formando o FDG. Esse processo acontece sob supervisão do Centro de Radiofarmácia do Ipen e dura cerca de 30 minutos – meia hora subtraída do tempo de duração da radioatividade.

Às seis e meia, o FDG deve estar pronto e embalado de acordo com as quantidades pedidas no dia anterior pelos 10 clientes que o Ipen atende, entre eles o Hospital Sírio-Libanês, o Hospital do Coração, o Albert Einstein, o Instituto do Coração e a Unicamp. O raio de atendimento é limitado à região de São Paulo e Campinas em virtude do tempo gasto no transporte do radiofármaco. Além do Ipen, apenas o IEN, no Rio de Janeiro, produz o flúor-18.

Os motoristas que fazem o transporte estão a postos às sete da manhã no estacionamento do Ipen com suas vans sinalizando carregamento de material radioativo. A transportadora que entrega o material em São Paulo tem prazo de uma hora e consegue fazer as entregas normalmente em 45 minutos. O trânsito não é um problema grande às sete da manhã, mas pode ser um complicador caso o Instituto tenha problemas na produção – o que não é raro. Nesse caso, os clientes são avisados e às vezes eles cancelam os exames do dia. A transportadora que leva o FDG até a Unicamp consome cerca de uma hora e vinte minutos para chegar e Barão Geraldo - o trecho da Marginal Tietê onde a van passa sempre tem bastante movimento.

Na sala de exames, os pacientes recebem a injeção – a dose com 10 milicuries (1 curie equivale a 3,7 x 1010 desintegrações por segundo) custa R$750. Já são 8 horas, se passaram mais de duas horas da irradiação. Eles ainda precisam ficar de 45 minutos a uma hora e meia de repouso, esperando o FDG circular e se fixar no corpo. Apesar de todas as células do corpo receberem e usarem glicose, são os tumores que concentram a maior parte dela. Eles são localizados por consumirem em maior quantidade a glicose marcada – o FDG. Às 9h30 quase duas meia-vidas já se passaram, levando consigo 75% do flúor radioativo que se encontrava na amostra às seis da manhã, antes da marcação. Para os pacientes, resta esperar ainda 24 meia-vidas para receber o resultado do exame.

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