ISSN 2359-5191

11/08/2004 - Ano: 37 - Edição Nº: 07 - Saúde - Instituto de Psicologia
Pesquisa inédita aponta alternativa para portador de Parkinson

São Paulo (AUN - USP) - Estudo pioneiro está sendo desenvolvido no Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas (HC), onde foi criado o Setor de Estimulação Magnética Transcraniana, sob coordenação de Marco Antonio Marcolin. Trata-se do único grupo no Brasil a estudar a aplicação da prática de estimulação magnética transcraniana (conhecida pela sigla inglesa TMS), utilizada em estudos neurológicos e tratamentos de distúrbios cerebrais. O nome pode ser complicado, mas quando explicado por Paulo Sérgio Boggio, do Instituto de Psicologia da USP, que defendeu no início de julho sua tese relacionada ao TMS, não parece nenhum “bicho de sete cabeças”.

O procedimento não-invasivo consiste em converter corrente elétrica alternada em campo magnético, através de um capacitor. Esse campo, emitido por um pequeno aparelho, é direcionado pra determinada região da cabeça, atravessando a caixa craniana e convertendo-se novamente em impulsos elétricos. “Estamos sujeitos a diversos campos magnéticos, como celulares e microondas, mas trata-se aqui de um campo focalizado e alto”, afirma Boggio. Através de um processo chamado transdução, essa energia emitida circula para os neurônios, podendo estimular ou inibir áreas e funções do cérebro. “Baixas freqüências inibem o funcionamento, enquanto altas freqüências o estimulam”, completa.

Os primeiros estudos com TMS eram principalmente fisiológicos: estímulos aplicados na região do cérebro responsável pelo movimento de um dedo, por exemplo, faziam com que o dedo se movesse à revelia de seu dono. Esse efeito, por ser localizado e temporário, facilita amplamente as investigações sobre as funções e regiões do cérebro. É conhecido o avanço que a neurofisiologia obteve durante a Segunda Guerra Mundial, associado a estudos com pacientes que sofreram ferimentos de guerra na cabeça. Assim, o estímulo da TMS pode ser considerado uma “lesão cerebral virtual”, termo cunhado por Pascual-Leone, da Universidade de Harvard – que possibilita a simulação de lesões em pacientes sadios e permite a investigação dos efeitos comportamentais, cognitivos e motores associados a elas. Com o passar do tempo, porém, os estudos se voltaram para tratamento de sintomas de esquizofrenia, epilepsia e depressão associada à doença de Parkinson.

É aqui que entra a pesquisa de Boggio. Poucos sabem, mas a doença geralmente aparece associada a um quadro depressivo. Muitos acreditavam que ela seria causada pela frustração do sujeito diante de sua incapacidade motora. Porém, apesar de esse ser também um dos fatores envolvidos, a depressão é causada por alterações fisiológicas no paciente. Os portadores de Parkinson apresentam perdas de neurônios transmissores de dopamina (dopaminérgicos), que são responsáveis por um quadro geral de enrijecimento muscular, dificuldade de iniciar movimentos (acinesia), prejuízo cognitivo (déficits viso-espaciais e de memória) e depressão. Os pacientes que manifestam sintomas depressivos têm sido tratados com Prozac, cujo princípio ativo é uma substância chamada fluoxetina. As pesquisas de Boggio, porém, apontam para o TMS como uma alternativa ao Prozac, evitando interação medicamentosa com as drogas usadas para combater os demais sintomas da doença.

A pesquisa foi desenvolvida com dois grupos de portadores de Parkinson, durante duas semanas: pacientes de um grupo receberam fluoxetina e de outro, sessões de TMS repetitivo (rTMS), durante o mesmo período. As sessões, diárias, eram de 40 séries de cinco segundos cada, somando 3 mil estímulos a freqüência de 15 Hz, aplicados no córtex pré-frontal esquerdo submetidos a avaliações de funções cognitivas, antes, durante e dois meses depois do tratamento, os dois grupos apresentaram resultados muito semelhantes, com recuperação da fluência verbal e da atenção.

Novos estudos devem ser desenvolvidos antes que a TMS possa se disseminar como tratamento. Sua segurança deve ser confirmada, sendo descartados possíveis efeitos a longo prazo. Além disso, há necessidade de obter parcerias para a construção de aparelhos por preços mais acessíveis.

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