Sejam bem-vindos à edição “Ano 2020” da revista Babel

Antes mesmo de iniciar, 2020 já dividia opiniões: seria o fim ou começo de uma década? Marcado pela pandemia de covid-19, o ano bissexto já é um daqueles que ficará grifado em todas as linhas do tempo. A cronologia será dividida pelo velho e novo normal, assim como em revoluções e guerras. Porém, além do novo coronavírus, esta edição da revista Babel aborda assuntos que foram satélites em um ano monotemático.

A Babel traz histórias como a de uma das quase trezentas gestantes que já faleceram de covid-19 no Brasil, que tem o maior número de grávidas vítimas da doença no mundo. O leitor também acompanha a trajetória de uma microempreendedora que teve de lidar com as restrições impostas pela pandemia, impedindo a abertura de serviços não essenciais. Assim como um homem que precisou viver um de seus 95 anos seguindo regras para evitar o contágio do vírus.

Destacado pela pandemia, o Sistema Único de Saúde (SUS) justificou ainda mais sua importância. Esta edição entrega um panorama histórico do país na área sanitária até a chegada do SUS, que completou 30 anos em 2020. É traçado, ainda, um paralelo com as recentes discussões que propunham a privatização de alguns setores, além de outras polêmicas.

A nova publicação trata de um fenômeno comum na história do mundo: a migração. Assim, a Babel narra a trajetória de uma mulher nordestina que migrou para cidade de São Paulo em busca da realização de sonhos. 

Venezuelanos na condição de imigrantes costumam recorrer à carreira gastronômica. A revista mostra que a razão para isso vai desde poder apresentar parte de sua cultura até a dificuldade em revalidar diplomas.

Embora frequentemente invisibilizada pela mídia, a migração forçada pelo clima também é explorada nesta edição, analisando a falta de reconhecimento por parte de entidades internacionais que encaram a questão como um tema futurístico – quando na realidade é contemporâneo. 

No Brasil, houve casos em que animais foram obrigados a se deslocar após terem habitats naturais destruídos, como analisa a reportagem que mostra um panorama sobre as razões que levaram as queimadas no Pantanal a atingir recordes em 2020. 

A publicação aborda temas do mundo digital. Em tempos de covid-19, em que ficar em casa se tornou regra, maratonar conteúdos audiovisuais tem se mostrado uma alternativa para relaxar. A Babel apresenta aos leitores o premiado estúdio japonês Ghibli, que ingressou no catálogo da Netflix neste ano. Com animações encantadoras, os filmes trazem um discurso pacifista de um Japão pós-Guerra. 

Apesar da disponibilidade de inúmeros serviços de streaming, ainda é comum o hábito de consumir conteúdos de origem duvidosa, muitas vezes impulsionado pelo valor exorbitante dos produtos. A edição expõe uma percepção sobre a pirataria no setor audiovisual e seus impactos na geração de pessoas nativas digitais.

Além da pandemia, 2020 foi o ano do TikTok, rede social diferenciada por ter a música como principal ferramenta. A Babel entrevista tiktokers, como são chamados os influenciadores, que contaram como suas trajetórias mudaram após o contato com a nova opção de entretenimento digital. Existe a dúvida sobre sua relevância no futuro, já que o aplicativo bombou durante a quarentena.

Com o sucesso de vídeos tutoriais de maquiagem que disfarçam imperfeições no corpo, a edição também trata do movimento “skin positivity”, que prega a aceitação de peles imperfeitas. A matéria utiliza exemplos de modelos internacionais que lidam com essas questões.

A Babel prova que assuntos como beleza não envelhecem: amadurecem. A revista propõe a discussão sobre autoestima entre mulheres que já passaram dos 50 anos e como elas analisam a padronização imposta pela sociedade. 

Junto à ascensão das novas tecnologias, há a crise econômica no setor livreiro no país. A publicação analisa a situação do mercado editorial e as investidas políticas que planejam tributar livros. 

Esta edição conta também com temáticas de denúncia a violações dos direitos humanos, como a medida federal que suspendeu visitas em presídios durante meses, após tentativa de impedir o alastramento de casos de covid-19. A publicação narra trajetórias de duas mulheres que, por terem parentes presos, lidam com o sistema carcerário do lado de fora dos muros. 

Ainda sobre o sistema prisional, a edição conta a história de um escritor ex-presidiário, contextualizada por dados sobre a ressocialização de detentos.

A revista finaliza com um paralelo entre os casos de feminicídio e transfeminicídio durante os períodos mais críticos da pandemia. Historicamente, mulheres cis e trans costumam sofrer mais violência dentro de casa, onde toda a população foi orientada a estar.

Por Jonas Santana / jonasribeirodesantana@usp.br