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Bola pra frente!

 

Por Anaís Motta

 

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Luiz  Alberto  tem  48  anos,  é  casado  e  pai  de  duas  filhas.  Morador  do  Tatuapé  e

torcedor  fanático  do  Palmeiras,  Luizão  ­  como  é  chamado  pelos  amigos  ­  adora

assistir  aos  jogos  do  seu  time,  principalmente  quando  acompanhado  de  uma  boa

cerveja e petiscos gordurosos. “Aos finais de semana tá liberado!”, ele diz ­ e está

certíssimo.

Se perguntarem a ele sobre seu trabalho, porém, Luizão provavelmente ficará em

silêncio por alguns segundos, e responderá com um olhar conformado: “Trabalho?

Bom, eu tinha um, mas não tenho mais”. É… Agora, ele é parte dos 6,8 milhões de

brasileiros  atualmente  desempregados  ­  ou  “desocupados,  mas  economicamente

ativos”, como o IBGE prefere chamá­los.

Depois de quase 20 anos trabalhando na área de vendas e merchandising de uma

grande empresa, Luizão foi mandado embora e está sem trabalhar há dois meses.

Se ele já esperava? “Esperava, porque o ano passado foi muito ruim. Mas a gente

fica torcendo pra que não, né?”.

É, Luizão, a situação do país não é nada confortável: assim como sua empresa teve

que  demiti­lo  para  cortar  gastos,  outras  organizações  têm  tomado  a  mesma

iniciativa ­  e  a  taxa  de  desemprego  no Brasil (6,8%)  já  é  a  maior  desde  maio  de

2013. As perspectivas para o futuro não são otimistas, e o país ainda deve sofrer

com  o  aumento  do  desemprego  pelos  próximos  três  anos,  como  prevê  a

Organização Internacional do Trabalho (OIT) em seu informe anual.

Os  dados  são  decepcionantes,  mesmo. Essas  altas  taxas  de  desemprego  podem

ser explicadas a partir de uma combinação de fatores: além da alta dependência do

bom desempenho de suas commodities no mercado internacional, o Brasil optou por

crescer economicamente nos últimos anos com base no incentivo ao consumo e na

expansão do crédito, o que não é sustentável ou eficaz a longo prazo.

O cenário é ruim, mas não eterno ­ não é, Luizão? “Tudo vai melhorar. De tempos

em  tempos,  temos  momentos  bons  e  ruins.  Esse  ano  vai  ser  muito  ruim,  com

certeza, mas dá pra se arrumar, sabe?”. Claro que dá! Mas se o novo emprego não

vier? “Eu penso em  comprar alguma franquiazinha no  comércio, porque depender

do seguro desemprego é furada!”.

Ainda bem que  você  sabe, Luizão. Além de finito,  o auxílio fornecido pelo  seguro

desemprego é mínimo, e a burocracia para solicitá­lo é enorme. A partir das novas

regras, que começaram a valer em março deste ano, quem quiser fazer sua primeira

solicitação  do  seguro  deve  ter  trabalhado  por,  pelo  menos,  um  ano  e  meio  na

empresa  que  o  dispensou.  Isso  prejudica  principalmente  os  trabalhadores  mais

jovens, que costumam ficar menos tempo no mesmo emprego.

“Mesmo assim, a gente vai fazendo o que pode”. Isso aí, Luizão! “Reduzi bastante o

consumo de coisas desnecessárias e tô procurando economizar energia, porque tá

custando os olhos da cara!”, diz ele com os olhos arregalados, como se realmente

fosse arrancá­los e trocá­los por uma lâmpada acesa.

“Desesperado não estou. Preocupado? Sim, a situação do país não é das melhores,

mas  vou  seguindo.  Já retomei  o  contato  com  pessoas  importantes,  atualizei  meu

currículo e até participei de alguns processos seletivos. Agora é torcer. Se não der

certo, vou partir pra aquela história de comércio que falei. É importante ter plano B,

né? Mas vai dar tudo certo”. Claro que vai, Luizão ­ e, com sorte, não só para você,

mas também para outros milhões de desempregados do país. Somos brasileiros, e

brasileiros nunca desistem ­ mesmo que as perspectivas não sejam nada positivas.

“Bem  que  tudo  podia  dar  certo  pro Verdão  também,  hein? Na Copa  do Brasil,  no

Brasileirão…”. Calma lá, Luizão. Talvez você esteja pedindo demais.

O claro! é produzido pelos alunos do 3º ano de graduação em Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo - Suplemento.

Tiragem impressa: 5.000 exemplares

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