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E ainda dizem que eu não trabalho

 

Por Victoria Salemi

 

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A ideia generalizada que se tem do trabalho é aquela do emprego, seja com carteira

assinada ou não, mas de onde se tira o sustento financeiro a partir de uma

obrigação. Porém, será que só isso pode ser considerado?

 

(Atleta)

Ainda meio zonza, acordo sem saber onde estou e levanto da cama. Olho no

relógio: seis da manhã. Quase todos os músculos do meu corpo ainda doem do

treino de ontem, mas não adianta ficar pensando nisso.

Começo o dia com musculação, que não é meu esporte, mas preciso do

fortalecimento para melhorar meu rendimento. É dolorido, ainda mais sabendo que

o treino mesmo só vem mais tarde, mas faço de tudo para melhorar meus

resultados, até aquilo que não gosto.

Já já o treino principal começa, mas antes descanso um pouco. Dá tempo de

ligar para os meus pais, já que me mudei para perto do clube para não perder

tempo indo e voltando pra casa.

Agora sim, começa o treino de verdade. Duas horas e meia do que muita

gente diria que é um sacrifício. Para mim, apenas uma forma de atingir meus

objetivos. E não pense que o rendimento é sempre bom. Tem dias em que não sai

nada como esperamos e a frustração é dupla, porque, além de não conseguir o que

quero, ainda levo broncas do meu técnico.

Terminada a primeira sessão de treinamento, ufa, hora de almoçar, mas

sempre com cuidado, já que tenho que manter a composição corporal ideal. Se bem

que é quase impossível não fazer aquele prato que parece uma montanha de

comida, de tanta fome que tenho!

Depois de um intervalo, hora de voltar para mais uma rodada. Você achou

que o dia já tinha acabado? Nada disso, mais um treino de duas horas. Tudo de

novo. Para mim, isso é uma coisa que faz parte. E não tem nada melhor do que

realizar um treinamento bem feito!

Tomo lanches e suplementos durante o dia, mas preciso parar para fazer

uma refeição completa. Janto rapidinho antes de ir para a aula.

Apesar de tanto esforço, sei que um atleta de ponta tem vida útil curta no

esporte, então preciso pensar no futuro. Em algum momento, vou me aposentar e,

ainda assim, tenho que me manter de alguma outra forma. Por isso, mesmo que eu

não goste muito ou esteja cansada demais para isso, preciso ir à faculdade.

Finalmente, vou dormir. É bom eu ir logo para a cama, senão o cansaço pode

prejudicar meus treinos de amanhã. Boa noite!

 

(Blogueiro)

Sempre me dizem que minha vida é fácil porque não tenho horário fixo para

acordar e posso ficar na cama até um pouco mais tarde. O que as pessoas não

sabem é até que horas fiquei cuidando das postagens no meu blog na noite anterior.

Já virei a noite pra poder deixar tudo agendado para publicação.

E para publicar, não posso sair escrevendo coisas sem saber o que está

acontecendo no mundo. A todo instante — inclusive durante finais de semana e

feriados — estou ligado nos noticiários, mas sempre tem uma hora em que paro

para pesquisar mais a fundo sobre algum assunto que queira abordar no dia.

Leitura, consultas de sites, de referências, checar a procedência de informações,

pra evitar cair em teorias da conspiração, que é um problema muito comum quando

se trata de política internacional.

Mesmo quando paro um pouco, pra almoçar ou fazer um lanche, ainda estou

pensando em como posso falar de maneira diferente sobre alguma coisa que sei

que meus leitores têm interesse.

Depois dessa pausa é hora de começar a produzir. Em geral, é nesse

momento em que escrevo meus textos ou roteiros, gravo e edito meus vídeos. Em

casos especiais, como projetos de longo prazo ou temas mais complexos, costumo

tirar um tempo para estudar também. Pode parecer algo bem flexível. Por um lado,

até é, porque posso escolher em que momento do dia vou fazer isso, mas, por

outro, não. Meus leitores estão acostumados a ver textos novos todos os dias no

blog. Não posso deixá­los sem novidades.

Como cuido de outras questões do meu dia­a­dia ou de outros trabalhos,

especialmente freelancers, tenho que para um pouco de cuidar do meu blog. Para

suprir esse tempo que fico sem fazer nada pelo site, volto a ele durante a noite.

Tarde da noite, volto à minha página. Os textos e vídeos estão prontos, mas

ainda preciso postá­los no site. Além disso, trato de imagens para acompanhar as

matérias, além de responder a comentários e e­mails. Tirando o fato de que meus

horários são flexíveis, minha carga semanal não deve nada aos relógios de ponto

de muitas repartições.

Só vou dormir quando acabo o que tinha programado pro dia. Costumo dar

uma navegada em alguns sites e jornais para ver se não tem nenhuma atualização

sobre algum assunto importante que  sei que meus leitores gostariam de saber mais

alguma coisa. Se não for o caso, leio um pouco, porque é sempre bom exercitar a

linguagem, já que trabalho escrevendo.

 

(Dona de Casa)

Acordo cedo todos os dias. Meus filhos já se viram sozinhos, mas, se eu não

arrumar a casa logo, não dá tempo de deixar o almoço pronto. Então, antes das

6h30 preciso começar. Me acostumei com o horário de quando levava as crianças

para a escola e prefiro me organizar assim.

Já em pé, depois de tomar o café da manhã, começo a fazer tudo: arrumo a

cama, junto as roupas sujas para lavar, limpo o banheiro, a sala, a cozinha, junto as

coisas que os outros deixam jogadas. Dizem que eu não trabalho, mas ninguém se

mexe para tirar a toalha molhada da cama ou para lavar, passar e guardar a própria

roupa. E ainda esperam que elas apareçam “magicamente” na gaveta, limpinhas e

sem amassados.

Quando vai chegando perto do meio dia, já preparo o almoço, porque meus

filhos e minha neta vêm comer aqui. “Tem comida pronta? Oba!”, sem parar para

pensar em quem foi que teve trabalho para que tudo estivesse preparado. Isso sem

falar nas compras. Tento me programar para ir uma vez a cada 15 dias, mas é

comum ter que ir correndo até o supermercado na última hora porque faltou alguma

coisa.

Depois do trabalho preparando, hora de comer. É bom passar tempo com

filhos, netos, mas sempre vem um “Mãe, tem suco? Pega outro prato pra mim?”.

Nem quando vou almoçar posso pensar apenas em mim. As pessoas sempre

elogiam esse jeito de mãezona, o que me deixa feliz, mas acho que elas não

pensam muito na energia que nós gastamos para que a família esteja sempre bem.

Durante a tarde, tenho que cuidar da minha neta. E claro, como não trabalho,

devem achar que passo o dia todo me divertindo com ela. Mas cuidar de uma

criança pequena envolve muitas coisas trabalhosas, e até chatas em alguns pontos,

como dar banho, trocar, arrumar a bagunça que ela faz, preparar a comida dela, e,

às vezes, até fazer o serviço da casa com um olho nela, já que ela está começando

a andar e mexe em tudo. Já me canso em dias normais, mas quando ela está

manhosa é pior ainda. Costumo ficar com ela a tarde toda, até de noite. É uma

verdadeira maratona.

E ainda tem os bichinhos da casa, que não têm um sistema automático para

receber comida, água e ter um ambiente limpinho pra viver, então ainda tenho que

tomar conta deles. “Mãe, eu quero um cachorro, por favor, por favor!”. Que mãe

nunca ouviu isso e, mesmo pensando que seria ela mesma que teria que cuidar,

não atendeu ao pedido para ver os filhos felizes? A gente é assim, faz de tudo pelas

nossas crias, mas fácil, realmente, não é.

Depois que minha filha chega para cuidar da minha neta, posso relaxar um

pouco. Quem chega em casa e vê a dona de casa em um momento mais

descontraído acha que é sempre assim, porque não enxerga o esforço que a gente

faz para deixar tudo confortável para todo mundo. Por volta das dez da noite já

estou morrendo de sono e de cansaço, então vou dormir cedo.

Deito, muitas vezes até com dores no corpo, e fecho os olhos. Que delícia,

finalmente vou dormir, podendo não pensar em nada… Mas será que ainda tem

creme de leite para fazer estrogonofe amanhã no almoço? Se não tiver, acho que

posso fazer uma macarronada. Ih, mas também acabou o molho vermelho. Que tal

então um bife? Mas…. Zzzzzzzzzz.

O claro! é produzido pelos alunos do 3º ano de graduação em Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo - Suplemento.

Tiragem impressa: 5.000 exemplares

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