logotipo do Claro!

 

Pelo amor de Satã

 

Por Sara Baptista

 

O-Dia-de-Satã-1988-4
Pedro* é satanista. Ele é um jovem comum, faz faculdade, se diverte com os amigos e se passar por você na rua talvez nem chame a sua atenção. Começou a estudar satanismo na adolescência, por curiosidade própria, e quanto mais lia, mais se interessava. Alguns anos depois teve seu primeiro contato com o satanismo moderno, em um grupo de estudo.

Eu não sei se Pedro pratica rituais, ele não pode falar sobre o assunto. Também não sei se Pedro reza. A família dele sequer sabe que ele é satanista. Porém, eu sei que Pedro não sai na rua chutando cachorro e desejando mal aos outros. Conversei com Pedro mais de uma vez e não faltou educação e simpatia. Pedro é até muito amável.

Há de fato uma certa obscuridade no satanismo. “Acho que o satanismo é tratado com muito medo e ignorância, fomentados por um preconceito criado na Idade Média pelas igrejas cristãs. Graças a isso nos fechamos tanto. Acho que o cristianismo é o grande criador e violentador do satanismo”, conta Pedro.

Os primeiros grupos satanistas surgiram na Alta Idade Média, tempo de forte domínio da Igreja Católica. E, apesar de não terem surgido como uma afronta, provavelmente apresentaram certa ameaça. Talvez por isso até hoje aqueles que se denominam satanistas sejam mal vistos pela sociedade. “Eu evito falar muito sobre isso para as pessoas, amigos normalmente ou se chocam ou não levam a sério”, diz Pedro.

Frente a tanta hostilidade, Pedro e seu grupo preferem se manter discretos. Não falam sobre o assunto com qualquer pessoa e preferem não ter seus nomes expostos na mídia. No entanto, essa é a posição de um grupo.

O satanismo tem tantas correntes que seus princípios básicos tornam-se quase obscuros. Formalmente, o ponto comum entre eles não é um culto ao demônio como o imaginamos. Não há relatos na Idade Média sobre a existência de cultos específicos acerca das entidades que compõem os demônios da época e mesmo atualmente, os satanistas em geral não cultuam entidades superiores. Eles focam a sua atenção no avanço espiritual e/ou hedonista do indivíduo, ao invés de focar na submissão a uma divindade ou a um conjunto de códigos morais. Mas isso não impede que alguma corrente diferente, que não siga tais princípios, se autodenomine satanista.

Segundo a Igreja de Satã, criada por Anton La Vey em 1966, satanistas são ateus e a existência do satanismo teísta é desconsiderada. Pedro é satanista teísta, e afirma que quem segue a mesma corrente vê como uma crença, uma doutrina, e alguns até encaram como religião. “Acho religião um termo bem forte… mas há quem chame assim”, completa. Por outro lado, há quem nem considere os laveynianos como verdadeiros satanistas.

Religião ou não, fato é que o satanismo não está aí apenas para afrontar o cristianismo e, assim como as outras crenças sejam elas filosóficas, ideológicas ou religiosas, ajuda a satisfazer algum tipo de anseio pessoal. “Na minha vida, o satanismo me apresenta pessoas e conhecimentos, me alivia das dores do mundo por me tranquilizar, me colocar um foco”, finaliza Pedro.

* nome modificado a pedido da fonte

O claro! é produzido pelos alunos do 3º ano de graduação em Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo - Suplemento.

Tiragem impressa: 5.000 exemplares

Expediente

Contato

Av. Prof. Lúcio Martins Rodrigues, 443, Bloco A.

Cidade Universitária, São Paulo - SP CEP: 05508-900

Telefone: (11) 3091-4211

clarousp@gmail.com