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EXPLORAR TAMBÉM É PRECISO

 

Por Giovana Feix

 

turismo

 

 

Ser viajante nem sempre envolveu vestir camisa florida e pendurar câmera no pescoço. Alguns séculos atrás, os lusitanos saíram por aí em uns barcos gigantes de madeira, muitos sem nem saber escrever sobre o que encontrariam pelo caminho. E antes mesmo de nascerem as camisas floridas, as câmeras e até Portugal, a busca por lugares diferentes era parte integrante da vida humana. Para os romanos, esse tipo de encontro era tudo, menos amigável, e levou ao pejorativo nome dado por eles aos estrangeiros: “bárbaros”.

 

A ideia de turismo que cultivamos hoje aparece, obviamente, muito depois de todas essas histórias. Turista turista, só depois da revolução industrial, com a introdução de “tempo livre” no imaginário popular. É algo que se distancia das explorações portuguesas ou das inimizades romanas, para então se aproximar de uma sede por descanso. E é aí que nasce um dos segmentos mais rentáveis do mundo: segundo a Organização Mundial de Turismo (OMT), ele é hoje responsável por 9% do PIB mundial. Nada má, a presença dos “bárbaros”, seria bom revelar aos romanos.

 

Mas como colocar preços em praias, climas ou culturas? A turismóloga Clarissa Gagliardi explica: o ganha-pão, na verdade, são os serviços. Com a criação de agências especializadas, que reúnem vários deles em um só lugar, é provável que muitos de nós nos afastemos ainda mais das explorações aventureiras de outrora. Com seus pacotes, essas empresas apresentam vantagens tanto no preço quanto na sensação de segurança que envolve ser guiado e ter companhia, em visita aos “bárbaros”.  Mas elas também podem transformar a exploração de cidades e até de países inteiros na mera visita de pontos turísticos ou roteiros cristalizados. Também compõem esse quadro as padronizadas redes de hotéis internacionais, que se propõem a fazer mesmo da estadia em lugares desconhecidos uma experiência familiar.

Com um cenário desses, é de se questionar como o turista atual ainda se assemelha aos exploradores antigos. Com tanto conforto e familiaridade, perderia a viagem algo de seu valor? Clarissa não é tão pessimista assim. Segundo ela, ao mesmo tempo em que a globalização torna as viagens mais padronizadas, ela possibilita um acesso cada vez maior ao turismo. Além disso, um tipo de viagem não exclui a possibilidade de outro. E são possíveis, como ela conta, muitos outros. “Você não tem só essa estrutura”, propõe. “Dá pra ir pra Portugal e ficar no Ibis ou ficar numa pousada histórica, por exemplo”. O país dos exploradores que descobriram o Brasil tinha algo muito interessante, nos anos 40: o governo comprou vários prédios históricos, para depois transfomá-los em pousadas tradicionais e estatais. Depois de problemas econômicos, houve a privatização de parte dessa rede, que passou a ser gerida por mais um grupo internacional: o Pestana. “O serviço deve ter ganho um ar de padrão internacional”, opina a turismóloga, “mas em muitos lugares ainda dá para ter uma experiência mais regional, com profissionais que sejam de lá”.

 

Para quem ainda procura por explorações, Clarissa tem ainda outras dicas: o turismo de experiência e, principalmente, o turismo social. O primeiro envolve atividades sensoriais demarcadas, como saltos de pára-quedas, enquanto o segundo inclui tanto preços mais acessíveis (geralmente subsidiados) quanto um contato mais próximo com populações locais. Além disso, novas ferramentas digitais, como é o caso de aplicativos e blogs de turismo,  podem ajudar. Os viajantes, assim, não ficam tão dependentes das agências na hora de explorar. O cenário é novo, mas é importante saber que ainda dá pra sair por aí com um quê daqueles lusitanos. Mesmo que – por que não? – com camisa florida e câmera pendurada no pescoço.

O claro! é produzido pelos alunos do 3º ano de graduação em Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo - Suplemento.

Tiragem impressa: 5.000 exemplares

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