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O LOCAL OCULTO DA PRODUÇÃO

 

Por Marcelo Grava

 

fabrica

 

Arbeit macht frei – em alemão, “o trabalho liberta” – era a frase que esperava milhões de prisioneiros em campos de concentração nazistas. Aqueles que a liam eram obrigados a trabalhar nas prisões, muitos até a morte. Em retrospecto, é fácil entender o absurdo dos letreiros: os nazistas submeteram seus prisioneiros a tudo, menos à liberdade. Mas, fazendo uma análise mais ampla, desde o surgimento da humanidade, será que o trabalho já foi exercido livremente, ou representou algum tipo de “libertação” para os povos?

 

No século XIX, dois teóricos alemães, Karl Marx e Friedrich Engels, observaram que toda sociedade, desde os primeiros humanos, desenvolveu suas próprias formas de transformar a natureza para sobreviver.

 

A dupla mostrou que a divisão do trabalho, as classes sociais e toda a base político-ideológica de cada época correspondem às condições de sua produção. Além disso, a classe que detém os meios de produção sempre explora as demais.

 

No capitalismo, segundo Marx e Engels, a burguesia  é quem concentra os meios necessários para a produção da vida humana (infraestrutura, tecnologia, recursos naturais etc). Aqueles que não possuem tais meios, o proletariado, vendem sua força de trabalho para um capitalista, em troca de um salário.

 

Cléber Souza, 27, é um proletário. Trabalha desde a adolescência com manutenção de máquinas, e já passou por várias fábricas do ABC paulista. Hoje, é empregado da Método Manutenção. Ele conta que chegou a ficar 18 horas seguidas fazendo reparos em máquinas. “A fábrica é o setor onde a galera mais trabalha e menos recebe”, diz.

 

Cléber acredita que o trabalho é sempre exploratório. “Eu vejo a galera trabalhando muito, engolindo muito sapo e não recebendo o que lhe é de direito. A gente é responsável por todo o faturamento da empresa, mas o dono tá cada vez mais rico e o salário cada vez menor.”

Eis o que Marx e Engels consideraram a base da exploração capitalista: a extração de mais-valia. Trata-se da diferença entre o valor pelo qual uma mercadoria é comercializada e o valor pago ao trabalhador para sua produção, na forma de salário.

 

O trabalhador recebe apenas uma parcela do valor que produz. O restante, mais-valor, se transforma em gastos e lucro do capitalista. Através da mais-valia, o patrão gera a acumulação e a concorrência e garante seu domínio sobre o empregado.

 

Com 18 anos, Cléber participou de sua primeira greve.  Filiou-se à Central Única dos Trabalhadores (CUT), mas percebeu que o sindicato submetia os trabalhadores a acordos pré-negociados com os patrões. Hoje, não pertence a qualquer central.

 

Sua realidade é como a de muitos trabalhadores em grandes cidades. Célio Viana é gari no Rio de Janeiro e, em 2014, protagonizou uma greve que rompeu com o sindicato, conquistou aumento salarial de 37% e fez a cidade, em pleno carnaval, perceber que não é maravilhosa sem a labuta diária e quase invisível da categoria.

 

Ele conta que os garis sempre questionaram as condições precárias de trabalho, e a paralisação de oito dias os ajudou a se valorizarem. “Você fazendo reuniões, falando pros trabalhadores que quem decide são eles e a direção do movimento não vai decidir nada além do que a categoria decide, faz eles se sentirem representados.”

 

Célio também não nutre esperanças no modelo sindical e defende que “a mudança parte do povo”. “Esses partidos e sindicatos que estão aí não nos representam. Uma nova direção tem que começar pela base. O povo, quando quer se organizar, consegue.”

 

O roteiro foi antecipado por Marx e Engels. Para eles, somente a livre organização do proletariado poderá superar o capitalismo e cessar o domínio de uma classe sobre outra, libertando a sociedade da propriedade privada e, por conseguinte, da exploração do trabalho.

O claro! é produzido pelos alunos do 3º ano de graduação em Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo - Suplemento.

Tiragem impressa: 5.000 exemplares

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