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Um lado dos Jogos Olímpicos que ninguém vê

 

Por Vinícius Inácio

 

esportes

“Os treinos aconteciam quatro vezes por semana e duravam quatro horas. Aos fins de semana jogávamos em cidades que não a nossa, viajando por horas”. Se você pensa que essa é a rotina de um atleta adulto, está enganado. É assim que Karina Oliveira, 21, passou a juventude nas quadras. Para ela e outros jovens que almejam disputar uma Olimpíada, a dura rotina de treinos e jogos é cotidiana.

Um salto, um drible e um bloquio, executados à perfeição, escondem a rotina de repetidos movimentos, pulos e quedas, que por vezes levam à lesão crônica. A dor é cotidiana para o atleta, desde as categorias de base até a fase profissional: “Tive colegas que pararam de jogar porque adquiriram lesões. Não sofri com isso, mas me afastei do esporte. Perdi a esperança de me tornar profissional, por exigirem muito de mim. Fisicamente e psicologicamente”, declara.

Para Kátia Rúbio, professora da Escola de Educação Física e Esporte da USP (EEFE) e ex jogadora de vôlei, “é importante que o atleta tenha a clareza de que sua atividade é diferenciada”, que não é possível atingir o nível olímpico “sem viver diariamente o limite”, mas aponta que a exploração do corpo, exigida pelo esporte, pode levar a níveis extremos de desgaste emocional e físico. “Existem clubes preocupados com o desenvolvimento do atleta e que respeitam as especificidades da faixa etária e da modalidade, desenvolvendo a capacidade de competir, de acordo com o indivíduo. Porém, existem clubes que obrigam jovens a executar um trabalho tão proibido quanto o de uma criança que trabalha nas pedreiras de São Tomé das Letras”.

Se o jovem aguenta o ritmo pesado de treinos e jogos, quando adulto a conta chega e o tempo cobra. Caso de profissionais consagrados como Ian Thorpe, cinco vezes campeão olímpico e que juntos às vitórias desenvolveu depressão e alcoolismo. Casagrande, ex-jogador do Corinthians, não esconde que a rotina de treinos, concentrações e jogos contribuiu com seus vícios. Ana Moser pagou com 12 cirurgias a primeira medalha olímpica do vôlei feminino do Brasil, em Atlanta, 1996, e convive com dores permanentes no joelho.

A Olimpíada de Los Angeles, 1984, ficou marcada pela imagem esgotada e cambaleante da atleta norueguesa Gabrielle Andersen que ignorando a dor e o cansaço, atingiu a linha de chegada após 42km da maratona olímpica. A imagem que ficou para a história do esporte não foi apenas a de superação ou do desejo de vencer de Gabrielle. Aquele quadro escancarou o alto preço cobrado a qualquer jovem que decide se tornar um atleta.

Pela TV, vemos a beleza e a plasticidade do esporte, mas para atingir o lugar mais alto do pódio é necessário percorrer um caminho que, junto ao desejo da vitória, traz a dor e a incerteza da derrota.

O claro! é produzido pelos alunos do 3º ano de graduação em Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo - Suplemento.

Tiragem impressa: 5.000 exemplares

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