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A beleza está nas ruas

 

Por Pâmela Carvalho e Vinícius Crevilari

 

 
colagem manifestações
 
Muitos podem afirmar que as ruas não são um fim, mas meio para se atingir outro tipo de sociedade. Mas qual é o papel das ruas em movimentos político-sociais? Para Lincoln Secco, professor do Departamento de História Contemporânea da FFLCH, as ruas “se enchem por razões combinadas: quando o sistema político perde representatividade, onde há um ‘contágio’ que unifica diferentes demandas locais em manifestações de sentido nacional ou internacional, em que algum evento funciona como estopim”; ou algo “menor”, mas que corrói as condições de vida da população, “como o aumento do preço do pão ou da tarifa de ônibus”.
 
Para o professor, os movimentos de dimensão histórica sempre são fomentados pela circulação de ideias e a comunicação sempre funciona como importante fator de aglutinação do povo em um só espaço. A década de 1960 é um exemplo que demonstra a importância da circulação de ideias para a tomada das ruas. O período foi marcado por contestações em todos os aspectos, o que resultou em protestos da juventude, da classe trabalhadora e de movimentos sociais por todo o mundo. As ocupações das universidades, das fábricas e das ruas se espalharam como uma epidemia — como a que aconteceu no Quartier Latin, quadrilátero de ruas de Paris que serviu de palco para as manifestações da época — e uma nova relação da sociedade com o espaço urbano foi se formando. Essa efervescência da juventude, aliada às contestações sobre o papel da universidade na sociedade, trouxerem à tona a luta pela igualdade de direitos, a contra-cultura, a contestação dos modelos de ensino e a negação do Capitalismo.
 
Mas essa relação entre o “maio de 68” e a tomada das ruas, não foi singular na História. A ocupação política da cidade sempre foi um mecanismo de ação direta para a expressão de descontentamentos e, dependendo da resposta que as autoridades dão a elas, novos caminhos se abrem. Foi o que aconteceu na Rússia, em 1905. Milhares de operários marcharam rumo ao palácio imperial, com o intuito de entregar um abaixo-assinado, no qual reivindicavam, entre outras coisas, a participação de representantes do povo no poder. Em represália, a Guarda do Czar abriu fogo contra a multidão. A resposta à repressão foi rápida: greves e manifestações por todo o país, sob a palavra de ordem “Abaixo o Czar! Todo o poder ao povo russo!”. Um movimento de rua que foi a faísca para um levante popular que se iniciou em 1905 e abriu espaço para a insurreição proletária que viria ocorrer com a Revolução de Outubro, em 1917.
 
Desde 1905 muita coisa mudou, mas a tomada das ruas não perdeu sua importância. Em um mundo no qual as mídias sociais possuem papel determinante na expressão de pensamentos e de ideologias, tomar as ruas ainda é fundamental: “Os meios digitais potencializam e até alteram a conduta das pessoas nas ruas, facilitando a organização, difundindo mais rapidamente informações. Mas a forma de existência política continua concreta. Ainda que todos saiam às ruas para aparecer, é preciso ir às ruas”, aponta Secco.

O claro! é produzido pelos alunos do 3º ano de graduação em Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo - Suplemento.

Tiragem impressa: 5.000 exemplares

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