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Comida fora da lei

 

Por Murilo Carnelosso de Jesus

 

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Todo dia, um pouco antes das 17h, paro minha Towner azul escura a poucos metros da saída do metrô. Com os meus cachorros-quentes, sal­gados e churros recheados espero o povão que se dirige para a fila (cada vez mais enorme) da lotação. É um bairro residencial, o que me pos­sibilita estar quase sempre no mesmo lugar. Do outro lado da calçada também tem quem fica com seus carrinhos vendendo batata-frita, chur­rasquinho, tem espaço pra todo mundo.

 

Na teoria, eu não podia estar ali. Em 2013 o pre­feito Haddad sancionou uma lei que “regulamen­ta” o comércio de comida na rua. Eu teria que ter um TPU (Termo de Permissão de Uso) para poder deixar minha van parada na rua. São quase 900 desses que prometeram pela cidade toda.

 

Até agora não saíram tantos do papel, é muita burocracia. São 13 documentos só pra poder concorrer por um espacinho de rua da cidade. Ela não é pública? Com essa lei, eu não poderia ficar aqui onde estou mesmo com a papelada porque é perto do metrô. Também é proibido ficar perto de estação de trem, escola, restau­rante, bar ou qualquer lugar que venda comi­da, além de pontos de ônibus e táxis, regiões ex­clusivamente residenciais, e ainda tem mais. Não sobra muito lugar mesmo.

 

Vou embora sempre depois das 20h, mas não fico muito mais, porque o movimento começa a diminuir. Algumas das barraquinhas con­tinuam até bem de noite pra pegar o pessoal que está voltando da faculdade.

 

Se já tive problema com polícia ou fiscalização? Aqui eles quase nunca passam, é um bairro mais tranquilo. Mas tá cheio de casos, inclusive de barraquinhas famosas, que tiveram de sair da rua por não ter o TPU. No nosso caso, ser despejado é exatamente não poder ir pra rua.

 

Oportunidade Gourmet

 

Foi aproveitando essa nova cultura “gour­met” que me arrisquei a abrir um food truck. As pessoas querem um espaço para relaxar à noite, comer algo bom tomando uma cer­veja. Infelizmente não é tão fácil conseguir uma licença da prefeitura pra vender na rua, por isso vim para um desses food parks. Aqui ainda somos livres pra vender bebidas alcoólicas, o que na rua é proibido.

 

Também participo de feiras gastronômicas e ou­tros eventos que precisam do nosso serviço. As empresas que organizam vários desses eventos chegam a lucrar até R$ 2 milhões por ano.

O investimento pra entrar no negócio dos food trucks normalmente varia entre R$ 150 mil e R$ 300 mil. Pra poder lucrar precisa ter um pouco de paciência. Mas a tendência é que o mercado cresça cada vez mais.

 

Aqui no Brasil o conceito de comida de rua vem ficando cada vez mais ligado à comida da moda, o que nem sempre é barata. Mas queremos con­seguir popularizar e levar o negócio para cada vez mais gente. Fazer isso no espaço público se­ria mais fácil, mas é possível fazer em espaços como este e feiras gastronômicas também.

 

Entendo o lado da prefeitura em tentar re­gular os negócios de comida de rua, mas isso torna tudo muito burocrático. São muito mais pedidos do que vagas para os TPUs oferecidos pelas subprefeituras. A ideia do food truck, de ter um negócio “itinerante”, que possa an­dar pela cidade, não combina muito com essa proposta de um lugar fixo, como se fosse um prédio no meio da rua que paga IPTU.

O claro! é produzido pelos alunos do 3º ano de graduação em Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo - Suplemento.

Tiragem impressa: 5.000 exemplares

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