Os artistas de rua têm muitas histórias. Não seria presunção considerar que cada um traz consigo um universo de experiências, recheado de angústias, alegrias e liberdades. Lucas é apenas um desses contadores de histórias. Trata-se de um moreno, alto e que usa dreads. Lucas conta que estudou em Minas Gerais, trabalhou por 6 anos numa empresa de caldeiraria, até que se “libertou disso” e foi viver como artesão de rua.
“Quando perdi meu emprego, fui pra rua”, conta, sorrindo um misto de astúcia e modéstia. Lucas tem 51 anos e há quase 25 anos trabalha com artesanato. Produz sua própria arte. Diz que são nômades. “Voltamos ontem do Rio. Vida boa lá, ninguém trabalha”, diz, gargalhando.
Lucas relata que a vida de artista de rua pode ser muito boa. “A gente vai pro meio do mato de vez em quando, ter um contato com a natureza”. Para dormir, procura os lugares mais baratos, mas caso não consiga encontrar, dorme na barraca. “Gosto de filé, mas como ovo de boa”.
Quando questionado sobre por que escolheu o artesanato, Lucas responde que “quando você é criança, fica impressionado, quer fazer mil coisas”. “E meu pai era jardineiro, sempre andava com ferramentas. Aí comecei a fazer artesanato”.
Porém, a vida de um artista de rua pode endurecer, principalmente no que diz respeito como os outros os vêem. “A nossa tribo é a que mais sofre preconceito. Mas isso é pobreza espiritual, né”. Lucas conta que podemos aprender muito com moradores de rua. “Às vezes vemos alguém todo sujo, mas essa pessoa pode ter um problema mental, ou teve uma grande decepção na vida. Mas se trocar uma ideia, aprende muito. É mais sábio que a gente”, afirma.
Lucas demonstra que não é alienado, nem mesmo com relação à nossa legislação. “A polícia era um problema grande, cara. Mas agora está de boa, pois aprenderam a respeitar a gente. Há uma lei federal que protege a gente, desde 2011”. Trata-se do Decreto nº 14.589, de 27 de setembro de 2011, que reconhece os direitos constitucionais de livre-expressão artística em espaços públicos.
O artesão conta que também foi parte de um movimento grande. “Um líder pra gente, o Rafael [Lage, fotógrafo e artesão que estuda a reconfiguração do movimento hippie no Brasil], filmou certa vez a polícia pegando as nossas coisas.
“Aí o padre da Igreja São José, catedral de BH, viu e arrumou duas freiras advogadas que defenderam a gente. Com o filme, corremos atrás de vereadores, agora tá liberado no RJ, MG, ES… Mas antes tomavam todos os nossos bagulhos, perdi os documentos umas 16 vezes.”
“Mas é a vida, cara, temos que nos defender. E vamos continuar ocupando o espaço publico do mesmo jeito, hoje e sempre”.