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Da morte à vida

 

Por Jullyanna Salles

 

 

Páginas 6 e72

 

Subitamente perdeu a noção de espaço. O ar lhe escapou e sentiu que o corpo ganhava peso. Foi como se estivesse caindo, mas sem se mover um centímetro sequer. Abriu os olhos. Surpresa.

 

Seu primeiro instinto foi olhar para baixo. As pequenas patas haviam se transformado em duas longas pernas. Seu corpo estava bem maior, inegável. Obviamente não era mais o que costumava ser. Inesperadamente, a consciência do que se era tomou conta da sua essência. Mulher. Ela agora era uma mulher. O que isso significava ou o porquê da metamorfose repentina não ficaram claros.

 

Tomada pelo susto, sentiu uma quentura na parte inferior do ventre e percebeu que um líquido vermelho forte, meio viscoso, escorria entre suas pernas. Tocou o desconhecido, sentiu a textura. A sensação tátil que aquele fluido lhe provocava era ótima. A cor era vibrante, realmente muito bonita. Queria expor aquela cor viva, mostrar para outros seres iguais a ela o quão bonito ele era. Sentia uma animação sem igual. Fez força para se levantar -como movimentar-se sem as asas, céus?-, mas foi impedida por um movimento brusco. Algo sólido, externo a ela, a travava. Olhou para o lado e identificou alguém grande, de aparência mais forte e viril que ela própria se tornara. Olhava-a com ar de desconfiança e julgamento enquanto apertava seu ventre e a segurava.

 

“Argh! Que nojo! Olha só, você sujou todos os meus lençóis. Vai se lavar e vê se deixa tudo por aqui limpo também”, disse ele. Não sabia o que era “nojo”, tampouco porque ele a olhava daquele jeito. Estava confusa, então seguiu seus instintos: tocou o líquido novamente e mostrou para ele, que se esquivou violentamente e esbravejou: “você está louca? Tira isso da minha frente. Que brincadeira mais sem graça!”.

 

Sentia dificuldade para expressar seus pensamentos em voz alta, mas conseguiu balbuciar poucas simples palavras: “É bonito. Vou sair”.  Ele se levantou e começou a rir nervosamente. “Sair? Mas você está toda suja de sangue, não pode sair assim! O que deu em você hoje?”. Ele saiu do quarto.

 

Entendia pouco sobre o que estava acontecendo, mas sentia que aquele outro ser que acabava de deixar o cômodo a aprisionava. Por que ele poderia decidir por ela? Queria poder fazer o que tinha vontade. Queria sair dali com aquele líquido tão bonito aparecendo. Parecia-lhe certo. E foi isso que fez. As asas foram embora, mas não ninguém podia impedir que voasse.

O claro! é produzido pelos alunos do 3º ano de graduação em Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo - Suplemento.

Tiragem impressa: 5.000 exemplares

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