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O Som da Resistência

 

Por Leonardo Milano

 

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DUM! (O mestre dá a ordem). A “mordaça” é um dos símbolos mais significativos da repressão. A voz, em oposição, é o nosso meio de resistir. E o que é a voz senão um som? O som que orquestra a resistência. E a resistência, assim como a opressão, se dá diariamente. “Calar” é oprimir. “Dar voz” é libertar. É claro para todos que quando queremos nos expressar fazemos barulho. Os “panelaços” estão aí para provar que é verdade.

 

 

DUM! (Os tambores respondem). E na história sempre foi assim. Dos tambores de guerra aos gritos de ordem. Do rap ao samba. Do berimbau as guitarras elétricas. O jogo da autoridade se dá e, sempre se deu, dessa maneira. O poder, fala. A obediência, escuta. No mundo da informação, a voz é privilégio dos que possuem canais para se expressar. E é aí que a rua e o som se encontram. A rua se torna o canal. O som, o meio. E dessa maneira, resistimos.

 

DUM! (Todos em uníssono). Esse é o caso dos estudantes Vinícius de Almeida Marciano e Eduardo Marquioli. Ambos ingressaram no Coro de Carcarás no segundo semestre de 2014, durante a greve dos trabalhadores e estudantes da USP.

 

 

DUM! (O volume sobe). O Coro nasceu na FAU, de um projeto de TCC que propunha a ocupação do espaço urbano através de intervenções artísticas inspiradas, principalmente, pelo Maracatu pernambucano. Desde 2013, o grupo decidiu romper os muros da Cidade Universitária. Hoje, o Coro acompanha atos e manifestações de rua pela cidade, promove oficinas gratuitas e até intervenções urbanas, como o famoso Arrastão.

 

DUM! (O som se massifica). Eduardo quer contribuir para a criação de “uma nova cultura” de ocupação do espaço público, que possa representar a juventude perante o status quo. Marciano argumenta que é na rua que você conhece e se aproxima da sociedade e que por isso, é tão importante sair de dentro da Universidade. Segundo os estudantes, foi na rua que o Coro se deparou com a violência policial, com a revolta da juventude e com trabalhadores em greve, ou seja, com o que está resistindo.

 

DUM! (Não há como não ouvir). Adriana Aragão é uma mulher negra, que encontrou no bloco Ilú Obá De Min, grupo composto exclusivamente por mulheres – a maioria delas negra –  uma maneira de combater o patriarcado e as tradições machistas. Juntamente com Beth Beli, Adriana teve a ideia de fundar o “Obá De Min”, para proporcionar às mulheres um espaço no qual elas poderiam tocar os tambores, já que em muitas nações africanas apenas os homens o poderiam fazê-lo. O tambor dessa forma, é o grande instrumento de resistência dessas mulheres. Tocá-lo representa a pura indignação em relação tradições machistas.

 

DUM! (O cimento treme). O movimento de resistência negro sempre esteve ligado as tradições e raízes africanas e muitas delas remetem à música. “Os tambores, em todos os sentidos, representam a resistência”, afirma Adriana.

 

DUM! E o som, dessa forma, resiste. Nas alfaias dos Carcarás. Nos tambores do Obá De Min. No grito daqueles que se recusam ao silêncio.

 

O claro! é produzido pelos alunos do 3º ano de graduação em Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo - Suplemento.

Tiragem impressa: 5.000 exemplares

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