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O som nosso de cada dia

 

Por Paula Mesquita e Roberta Vassallo

 

Osasco, 23º 31’ 57” Sul, 46º 47’ 30” Oeste, acorda para mais um dia de serviço.

Trrrrrim, trrrrrrim! Trrrrrrrim, trrrrrrrrim!

O mesmo tenebroso som de todas as manhãs, e é mais um dia que começa. Trrrrrrrrrimmmmmm! Já são 7h?? Vira para o lado, as cobertas farfalham de leve; trrrrrrrimmmm! Não dá pra fugir. Se rende, desliza o indicador pela tela do iPhone, e o famigerado despertador cessa.

 

Zzzzzzummmmmmmm, zzzzzzzzzzummmmmm, zzzzzzzzzzzummmmmm. O barulho do liquidificador não é, definitivamente, o mais agradável de se ouvir logo cedo pela manhã. Zzzzzzzzzzummmmmmm, zzzzzzzummmmmm. Tomara que não acorde a nenê.

 

Sai do apartamento um pouco apressada. Toc, toc, toc, toc. Os saltos do sapato social estalam no piso do hall. Aqueles cinco minutinhos a mais na cama cobraram o preço de um atraso para o trabalho. Que demora, esse elevador. Ding-dong! Chegou. Subsolo, por favor. Bom dia, seu Sérgio. É um lindo dia mesmo.

Toc tloc toc. Vruum, biiiiiii. O fretado chega, deu tempo. Uma viagenzinha até Alphaville. Vroom.

 

Click. Tec tec tec tec tec tec. Click. Click. Triiim Triim. Triiim Triim. Essa caixa de correio vive lotada, não consigo mandar e-mail. Click click. Umas várias conversas importantes ecoam pelo ambiente. O risco da implantação daquele sistema é o assunto. Vai ter plantão por telefone no final de semana. Pelo menos não fui convocada para virar a noite no escritório.

 

Vamos? Ploc Ploc Ploc Ploc. Ping. Ploc Ploc Ploc. Em frente ao centro de tecnologia da informação, vans representantes de restaurantes conhecidos das redondezas de Alphaville disputam para angariar os bancários que ponderam onde gastarão o vale refeição. Não quero demorar hoje, vou tentar passar em uma loja ainda lá no AlphaShopping. Tum. Vruum.

 

Chegando no costumeiro restaurante por quilo o tilintar dos talheres e as conversas altas e dispersas tomam conta do ambiente. O almoço hoje é breve, mas ainda assim, agradável, à companhia dos colegas de trabalho.

 

De volta pro escritório. Tec tec tec tec. Click. Triim triim… Será que esse expediente não acaba nunca? Preciso pegar um táxi e buscar a Manu na escola.

 

Fiu-fiu! Ai, meu deus. De novo, não. Aperta o passo. Atravessa a rua. Táxi! Táxi, pelo amor de deus.

 

Gazeta FM, dezoito horas e vinte e três minutos. Me leva até a escola… Que trânsito, né? Hora do rush, pois é.

 

Só hoje, nas Casas Bahia, tem aquela TV mais barata. Tem smartphone… Isso, é ali naquela subida. Pode parar onde você achar melhor. É, é nesse prédio aqui. Faz o sinal do Ronaldinho. Faz o famoso sinal do hang loose… Vai dar 91, viu. Tá. Dá pra pagar pelo app mesmo? Olha só. Obrigada. Dá a mão pra mamãe, filha. Fica perto, que ali tem carro. Manuela!

 

Chegamos, filha! Bzzzzzzzzzzz. Opa! Boa noite. Vamos, filha? Obrigada, viu? Nhee, Tum.


Boa noite, dona Maria. O jantar da Manu está pronto? Vou tomar um banho. Como é bom sentir a água quente caindo nas costas depois de um dia cheio. Chuáaaaaaa!

 


 

Unhéééééééé! Unhééééééééé! Mas esse bebê não acabou de pegar no sono? Ou será que fui eu? Unhéééééé! Meu deus, já são 4h30. Preciso sair em meia hora. Calma, filho, mamãe já está aqui. Não acorda seus irmãos não.

 

Glup, glup. Engole o café, passa manteiga no pão e vai comendo durante o percurso usual até o ponto de ônibus.  

 

Brrrrrrrummmmmm, brrrrrrummmmmm. A lotação abarrotada se sacode, jogando os passageiros uns contra os outros e alguns, quase janela afora. Brrrrrrr, plaft, plum. A cada buraco, parece que o ônibus vai se partir ao meio. Sai, desce as escadas do metrô e se coloca atrás da multidão que espera o próximo trem. Quando chega é aquele empurra empurra. Ninguém quer ficar de fora e ter que esperar o próximo que sairá tão cheio quanto aquele. O tic tac do relógio não espera.

 

Enfim, chega o destino. Duas horas de transporte público separam o local de trabalho do trabalhador da periferia. A rotina ao chegar é sempre a mesma. O som do maquinário já ecoa abafado perto dos portões. Bzzzzzzzz, blam, pluft, tum. Bate o cartão, téc!, coloca o uniforme e adentra o safári das batidas e sons metálicos. Bzzzzzzzz, blam, pluft, tum.

 

Para não atrasar o expediente, o almoço é lá mesmo. Pega na geladeira a marmita que trouxe de casa. Vuuuuummmmm, bing. O cardápio é o mesmo da noite anterior. Bzzzzzzzz, plaf. Alí o barulho é menor.  A badalada das maquinas dá lugar à última façanha de João, o filho adolescente da Jane, que trabalha no setor ao lado. Não quero nem ver quando os meus chegarem a essa idade. O Daniel já tá com quase 12, apronta na escola que só. Bom, vou indo que não posso sair tarde. É, tenho aquela faxina hoje e quinta.

 

Téc. Bzzzzzzzz, tum, bzzzzzzzz, pluft. O mesmo movimento se repete incansável até as 16h. Tec. Coloca de volta a calça jeans e a camiseta e sai apressada para a segunda jornada.   

 

Fiu-fiu! Ai, meu deus. De novo, não. Aperta o passo. Atravessa a rua. Toc, toc, toc, toc. O cara veio atrás. Pego o caminho mais longo? Pelo menos é mais movimentado… Mas ai, não posso me atrasar. Toc, toc, toc, toc, toc.

 

Lá vem o ônibus. Brrrrrrrrrrrrummmm, brrrrrrrrrrum. Como é dura a hora do rush; a lotação da manhã, que parecia não poder ficar mais cheia, agora comporta o dobro de passageiros. Brrrrrrrrr, plaft, plum.

 

Boa noite, seu Sérgio. A dona Débora já chegou? Que bom, obrigada. Vai dar tempo de preparar o jantar da Manu. Chop, chop, chop. Zzzzzummmmm. Coloca o frango no forno e vai limpar o tapete da sala. Vuuuummmmmmm Vuuummmmm.

Boa noite, dona Débora, ta quase saindo. Vamos sentar na mesa Manu? Bing.

 

O claro! é produzido pelos alunos do 3º ano de graduação em Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo - Suplemento.

Tiragem impressa: 5.000 exemplares

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