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Que bom que você perguntou

 

Por Guilherme Eler

 

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No McDonald’s da Vital Brasil, como em tantas outras vezes. Culpo a fome por, somente após estar com o hambúrguer em mãos, ter prestado atenção na música, plano de fundo para a refeição rápida dos presentes. “Você precisa saber da piscina, da margarina…” Estranhei. Uma versão acústica de “Baby”, dos Mutantes. Depois, “Ventura Highway”, clássico dos anos 70, em violão e voz. Definitivamente não estava ouvindo a costumeira “Rádio McDonald’s”. Cadê o Bruno Mars? Aquela nova do One Direction, talvez? O pop tinha dado lugar à programação da paulistana Alpha FM, que destoava totalmente da proposta jovem do ambiente e da marca. O cara mexendo no celular, ela ali com fone de ouvido. Ninguém parecia se importar com a mudança.

 

Perguntei a um ou outro funcionário. Não faziam ideia. “Até ontem tinha”. Insatisfeito, como se estivesse perseguindo uma grande história mal contada, senti a necessidade de verificar em outras unidades.

 

Pedi um sorvete. Maurício estava bem sério. Sem tentar disfarçar, desatou a rir quando questionei a ausência da rádio. “Cê gosta das músicas, é?”. A lanchonete próxima à Teodoro Sampaio contava apenas com o barulho do entra-e-sai das pessoas, comum de um início de noite. Caixas registradoras abrindo e fechando, atendentes repetindo em voz alta os pedidos dos clientes. Também sem o característico som ambiente. Mas pensa só, também, aquele mesmo clima o dia todo. Devia incomodar. Há cinco meses na rede de fast-food, o jovem garantia que não. “É melhor com música. Tem gente que tá aí tem mais de um ano e ainda não enjoou”. Mas não sabia explicar o silêncio.

 

Engraçado. Tinha uma tese, e, com ela, a vontade de comprová-la. Acabara a vigência da programação atual? Uma pane mundial da rádio, nunca antes presenciada? Ou ainda um boicote dos gerentes, em forma de protesto ao predomínio das divas pop? Muitas possibilidades. Não era um frequentador tão assíduo mas, sempre que fui, o repertório parecia ser o mesmo. Quanto tempo tem que foi lançada aquela da Katy Perry, uns oito anos? E seguia firme e forte na lista de reprodução.

 

Aproveitei que já estava na Faria Lima para ir a mais uma lanchonete. Esperei o intervalo da programação. “Você está ouvindo a Rádio McDonald’s. Amo muito tudo isso!”. Era a própria, de fato. Consolando-me com uma torta de maçã, fui cobrar da gerente possíveis motivos para a excepcional falta de música ambiente presenciada nas outras unidades. Viviane parou de analisar planilhas para me explicar, pacientemente. “É obrigatório. Nos mandam as músicas e repassam quando tem alguma atualização na playlist”.

 

A chefe não conseguia esconder a surpresa com meu interesse pelo assunto, justificado como curiosidade jornalística. “Ninguém nunca veio cobrar que não tinha. Seria bom se acontecesse mais, sinal de que realmente estão ouvindo”. De saída, e por desencargo de consciência, resolvo abordar Pedro, que limpava uma poça de Coca-Cola derramada próxima a uma lixeira. Insisto. Era meio chato estar ali todo dia com as mesmas músicas, né? Em tom de segredo, o funcionário opina. “Não é chato. É muito chato.” Pausa reflexiva. “Cê é louco, mano”. E sai.

 

O claro! é produzido pelos alunos do 3º ano de graduação em Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo - Suplemento.

Tiragem impressa: 5.000 exemplares

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