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Moça de família

 

Por Leticia Paiva

 

Moça de família

Bela, recatada e do lar

 

Foi o novo penteado de Laura que deu início a tudo: a mãe não aprovou os dreads e resolveu cortar sua mesada. Morando sozinha em Viçosa (MG) para estudar Letras e infeliz com sua vida, a moça de 23 anos decidiu largar a faculdade, vir para São Paulo e se manter sem depender dos pais. “Não quis mais mendigar dinheiro pra minha família; não quis mendigar amor”.

 

Seis meses depois, já sem os dreads e com os cabelos tingidos de ruivo, ela não se arrepende da mudança. Junto aos braços coloridos por tatuagens, repousam os cigarros e o celular com 87 mensagens não visualizadas – as quais nem todas ela pretende responder. Aluga um apartamento no Jardim Paulista, onde mora, além de um flat a poucos quarteirões de distância: por lá, recebe os clientes de seus programas.

 

Laura se mudou para o atual endereço em março. Pretende permanecer em São Paulo pelo menos até o fim do contrato de um ano do aluguel. “Ainda não sei se continuarei fazendo programa depois. Tenho meus filhos”, diz, com a fala calma de mineira. Ela é mãe de um menino de seis anos e de uma menina de três, distantes dela cerca de 800 km, morando na cidade de Dionísio (MG) com a avó materna. Todos os meses, ela os visita.

 

A família de Laura não demorou a ter notícia de sua profissão: “Pensei em mentir, mas acabei assumindo. Foi uma merda, meu tio arrombou a porta do meu banheiro, ameaçaram sumir com meus filhos de mim”. Seu pai, que é dono de uma transportadora, foi o único a não recriminá-la.

 

Os clientes descobrem Laura por meio de um site que divulga garotas de programa autônomas, contatando-as pelo celular. Na chegada à cidade, Laura trabalhou na agência de prostituição de uma conhecida, mas preferiu gerir a própria rotina – que inclui visitas ao homeopata e dedicação à escrita.

 

Para manter seu padrão de vida, afirma não ter visto outra opção que não a prostituição. “Sexo por dinheiro ou com alguém que sinto vontade de transar é indistinto. Vender sexo ou um pote de margarina é a mesma coisa; estou oferecendo algo que pode fazer bem a alguém. Eu não entendo como a minha uma hora de trabalho anula os compromissos que tenho com a minha família, anula minha dignidade”. Por enquanto, os planos que têm para o futuro são a conclusão do curso de Letras, para, quem sabe, dar aulas: “Sempre gostei muito de criança”.

 

O claro! é produzido pelos alunos do 3º ano de graduação em Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo - Suplemento.

Tiragem impressa: 5.000 exemplares

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