Domingo, duas da tarde. Uma massa verde e branca colore as ruas de Perdizes, rumo a mais um jogo do Palmeiras.
Da porta do estádio, dá para ver a sede da Rasta Alviverde, torcida organizada do Verdão fundada há três anos. A loja na rua Diana vende artigos como camisetas e bandeiras. Mas mais do que isso, o endereço é o ponto de encontro dos que fazem a Rasta acontecer.
Morador do Jardim Santa Terezinha, na zona leste, o presidente David Bazarello tem na sede, no outro lado da cidade, sua segunda casa. “A gente até dorme aqui às vezes”, conta. “Eu vejo mais esses moleques do que a minha família de sangue”.
Tudo ali é verde: o Bob Marley desenhado na parede, a erva tão apreciada, e, é claro, os símbolos do time. Com cerca de 50 sócios, a Rasta ainda é pequena. As obrigações, no entanto, são grandes. Para tudo isso acontecer, não existe uma relação de cargos e funções definidas. Quem pode, ajuda um pouco, e ajuda como pode.
Mas em dia de jogo, a família aumenta. Os meninos da zona leste se juntam aos barões de Perdizes e a outros milhares de palmeirenses que, juntos, fazem estremecer as arquibancadas do novíssimo Allianz Parque.
Já na Independente, maior organizada do São Paulo, o número de sócios passa de 70 mil. A loja fica numa galeria próxima à praça da República e tem funcionários contratados. O presidente, Henrique Gomes, 37, senta-se numa mesa, ao estilo “Poderoso Chefão”.
Naquele dia, a Independente vendia ingressos para o jogo contra o River Plate pela Libertadores. Mesmo sem que se conhecessem, os milhares de sócios da torcida se juntariam aos mais de 50 mil presentes no Morumbi. Em comum? O amor pelo clube.
No entanto, a vida das organizadas não anda fácil. Desde a briga entre torcedores de Corinthians e Palmeiras no último dia 2 de abril, antes do clássico pelo Paulistão, símbolos das torcidas não são mais permitidos nos estádios.
“Falam mal das organizadas, mas é a gente que faz as músicas que todo mundo vai cantar. Quando vai vender pay-per-view, é a nossa festa que aparece”, diz o presidente, membro da Independente desde os 17 anos.
Para ele, essa é justamente a riqueza de uma torcida organizada: fazer essa família tão diversa se unir num único grito.
Porque na hora de apoiar o time, a voz vira uma só. Na hora de vaiar o árbitro em algum lance duvidoso, também. Durante aqueles segundos, não existe distinção de classe ou de cor. Só existe o time, e tudo o que ele representa para todos.
David resume: “O que a gente sente não dá para explicar”.