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Cor x Cor

 

Por Leonardo Milano

 

 

João Mauro Senise é jornalista, mas atualmente trabalha com ativismo e mobilização política no Rio de Janeiro. No dia 13 de março deste ano, foi à manifestação pelo impeachment da presidente Dilma porque acredita que o ciclo do PT no poder deve se encerrar imediatamente. Vestiu-se de verde e amarelo, como a grande maioria que o acompanhou no protesto. “O pessoal de vermelho está na rua defendendo a Dilma, não o Brasil”, afirma.

 

 

Assim como João Mauro, Marcos Hermanson Pomar, residente da capital paulista, saiu às ruas no dia 13 para se manifestar politicamente. Mas, diferente de João, vestiu o vermelho. “Quando eu visto o vermelho, me integro a uma coletividade que simboliza uma série de pautas históricas da esquerda.” Segundo o estudante de jornalismo – que foi a todas as manifestações contra o impeachment da presidente Dilma neste ano – mais do que defendendo o governo, está “lutando pela democracia”.

 

João e Marcos representam muito bem o atual contexto político do Brasil. De um lado, os defensores da manutenção da presidente Dilma. Do outro, os que querem o impeachment. Diferentemente do que ocorreu no movimento das Diretas Já! ou do impeachment de Fernando Collor de Mello, a sociedade está dividida. E, no meio do escarcéu político que se tornou o país, os manifestantes encontraram sua identidade através de três cores. Enquanto o vermelho se tornou símbolo dos defensores do governo, o verde e o amarelo – as cores da bandeira nacional – tornaram-se as referências dos que querem erradicar o PT do poder.

 

Pouca gente sabe dizer, ao certo, qual será o resultado desse embate, e de que forma os  grupos irão se comportar agora que a presidente foi afastada do cargo. Luciano Guimarães, especialista na relação da semiótica das cores com a cultura e professor da ECA-USP, afirma que a utilização das cores nacionais normalmente surge num contexto de retomada do nacionalismo por parte de um determinado movimento. A mobilização pró-impeachment é um exemplo dessa retomada, já que busca construir uma narrativa baseada na ideia de “salvar o país da ameaça petista”. O professor também coloca que a aparente unidade que se dá em torno de ambos os lados é ilusória. “Há todo um conjunto de bandeiras agrupadas que estão usando a mesma cor, o que dá uma ideia de unidade”. As cores, dessa maneira, atuam como aglutinadores.

 

No meio do fogo cruzado, até a tradicional amarelinha da seleção brasileira de futebol, que já trouxe tantas alegrias para o povo brasileiro, está ameaçada. Afinal, sair de amarelo na rua, para alguns, tornou-se sinônimo de apoiar o impeachment de Dilma. Para Luciano, grande parte da mídia tem contribuído para consolidar essa narrativa dualista que contaminou o cenário político nacional , e essa “redução extrema é operada pelas cores”, como nas capas e fotografias.

 

Resta esperar por mais cores na política brasileira.

 

O claro! é produzido pelos alunos do 3º ano de graduação em Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo - Suplemento.

Tiragem impressa: 5.000 exemplares

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