logotipo do Claro!

 

Puxa pra branco, morena-jambo

 

Por Roberta Vassalo

 

 

cintia lana coloridos

 

“A sua cor não vai mais ter não, mas prova essa em bastão”, a atendente do Boticário ofereceu o produto. Ana passou em seu rosto, mas o tom ainda não era o mesmo. “Mas tá claro, né?”, a cliente observa. “Não, depois que você passa o pozinho, fica tudo certo. Você passa pó, né?”. Ana desistiu e foi tentar no quiosque da Maybelline, no andar de baixo do shopping. Apesar de ter maior variedade de tons escuros, mais uma vez a vendedora tentou empurrar bases mais claras do que a pele negra da estudante de 19 anos.

 

Certa vez, encontrou o tom ideal, 11 K iluminada, da marca Quem Disse Berenice, lembra. “Perguntei o nome da cor para guardar, e o vendedor falou que sairia de linha”.

 

Não só as maquiagens foram desenvolvidas com a ideia de que a cor de pele é uma só: a pele branca. O lápis de cor “cor de pele”, por exemplo, que todo mundo usou na escola, na verdade é um tom salmão; o esmalte nude, é da cor bege; e assim vai.

 

Até as décadas de 60 e 70, os processos fotográficos também não favoreciam os negros. Os cartões de calibragem das impressões de imagens se baseavam na pele clara e não distinguiam nuances mais escuras. Isso só mudou quando fabricantes de chocolate se incomodaram com a aparência de seus produtos no anúncio e exigiram a adaptação aos tons de marrom.*

 

Em seu trabalho Polvo, a artista Adriana Varejão produziu tintas que correspondem à descrição de 33 tons de pele dentre os 136 apontados pela população brasileira em resposta à pergunta “qual a sua  cor de pele?” no censo do IBGE de 1976. Alguns dos tons foram “morena-jambo”, “café com leite”  e “puxa pra branco”. O trabalho, que pretende repensar a percepção da cor de pele no Brasil, foi organizado com a antropóloga Lilia Schwarcz e resultou em uma exposição em que o rosto da artista aparecia pintado com as tintas produzidas.

 

Segundo Lilia, “as cores são sempre colocadas numa relação social com outros indivíduos, por isso há indivíduos que vão se definir ‘quase negros’, ‘indo pra negro’ ou ‘quase brancos’. São uma série de posições indefinidas, que mostram como existe uma negociação no Brasil em relação à cor”. Lilia adianta que Adriana Varejão pretende realizar uma nova exposição, mas agora com a produção de bases de maquiagem.

 

*A pesquisa da socióloga canadense Lorna Roth sobre os cartões da Kodak foi divulgada na revista Zum #10, do IMS

 

O claro! é produzido pelos alunos do 3º ano de graduação em Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo - Suplemento.

Tiragem impressa: 5.000 exemplares

Expediente

Contato

Av. Prof. Lúcio Martins Rodrigues, 443, Bloco A.

Cidade Universitária, São Paulo - SP CEP: 05508-900

Telefone: (11) 3091-4211

clarousp@gmail.com