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Coisa de gente grande

 

Por Beatriz Quesada e Vitoria Batistoti

 

Se antes os games eram vistos como lazer para nerds, hoje eles lotam estádios em campeonatos ao redor do mundo com premiações que chegam até R$ 1 milhão

 

A indústria dos videogames vem crescendo com tanto vigor que já ultrapassou a famosa Hollywood – em 2003, o cinema faturou US$ 19 bilhões, enquanto os games alcançaram a marca dos U$ 30 bilhões. Essa prosperidade que só cresce vem permitindo que cada vez mais fãs de jogos consigam viver do ramo.

 

 

Aos 28 anos, Cláudia Rosa Santini é jogadora profissional do popular Counter Strike (CS), jogo de tiro em primeira pessoa que fez sucesso no Brasil durante o boom das lan houses, no início dos anos 2000. Aliando faculdade, trabalho e jogo, Santininha, nickname pelo qual é conhecida, dedica mais da metade de seu tempo aperfeiçoando suas habilidades no mouse e teclado de seu computador, onde cada letra tem uma função diferente. Enquanto o botão esquerdo do mouse atira, a tecla ‘E’ arma e desarma bombas. Entre terroristas e antiterroristas, Santininha não tem preferência. Ela gosta mesmo é de ser a capitã de sua equipe, atualmente o More Than You (MTY), sendo responsável pela criação e desenvolvimento de estratégias.

 

Ilustração - Centrais - Jogo

 

Ela já gostava de jogos desde criança – lembra com orgulho de quando zerou o game 007 – Golden Eye para Nintendo 64. Mas a paixão mesmo veio quando ela conheceu o CS, aos 13 anos. Por influência do irmão, passava horas na lan house jogando e não demorou muito pra invadir o quarto e computador dele para se aventurar em partidas contra BOT (modo no qual o oponente é a própria máquina). Conciliando os estudos com dedicação e treinamento, de repente o profissionalismo surgiu. “Não foi algo que eu escolhi: só aconteceu”, pontua a jogadora, que precisou trancar a faculdade várias vezes por conta dos compromissos da nova rotina.

 

França, Canadá, EUA, Portugal e Alemanha – ela já esteve em todos estes países por conta de eventos de e-sports (esporte eletrônicos). Apesar do talento, o maior prêmio que ganhou foi de R$ 5 mil. Além de não conseguir se manter apenas como pró-player, Santininha lida diariamente com comentários sexistas de telespectadores e jogadores profissionais. No universo predominantemente masculino dos games, muitos são machistas e arrogantes: “Dizem que não deve haver investimento no cenário feminino”, conta.

 

Do outro lado, quem quer desenvolver seu próprio jogo também passa por dificuldades de adequação no mercado. O crescimento do espaço para os games é o que atrai muitas pessoas para o concorrido e instável mercado de jogos independentes, os indie games.

 

Igor Edington, por exemplo, só começou a se dedicar full time à sua paixão pelos jogos depois de dez anos de carteira assinada. Foi buscar contatos de trabalho em eventos de desenvolvedores como o BIG Festival (Brazil’s Independent Games Festival), o maior evento de jogos independentes da América Latina e o Spin, encontro mensal entre entusiastas da área.

 

Durante o BIG de 2015, Igor pôde conhecer o trabalho de Litsoh – conhecido fora do mundo dos games como João Navarro. “Sabe quando você vê de canto de olho que uma pessoa tá te rodeando, mas ela ainda não chegou junto? Parecia um stalker”, conta o designer aos risos sobre a falta de jeito de Igor ao tentar se aproximar dele. O time ficou completo quando conheceram no Spin o músico Thiago Schiefer, que trabalha com trilha sonora de jogos há dois anos.

 

Inspirados em uma mistura dos já consolidados Fruit Ninja e Zombie Juice, os três desenvolveram um jogo para mobile chamado Drop Dead Twice. O nome é uma gíria do estilo roqueiro dos anos 50 que significa “morra duas vezes” – um conceito que se encaixa bem com a ideia de matar zumbis.

 

Tiveram a ideia de aplicar no projeto o estilo roqueiro dos anos 50, bastante associado à figura do cantor Elvis Presley (que inclusive faz uma aparição no jogo como morto-vivo).

 

Já a pixel art foi uma escolha nostálgica: “Gostamos muito da geração old school dos games”, explica Litsoh. O jogo para android foi desenvolvido em menos de um ano através de chats, compartilhamentos de tela e reuniões semanais.

 

Apesar da competitividade que existe no ramo de desenvolvimento de jogos, os três amigos têm como meta viver de games, objetivo que está mais próximo com a oportunidade de expôr o jogo no Big Festival deste ano. “Isso é muito legal porque o Drop Dead Twice surgiu originalmente no mesmo festival”, conta Thiago.

 

Já Santininha ainda percorre um longo caminho para alcançar seu sonho, sempre com uma mão no teclado e outra no mouse pronta para detonar as ameaças que aparecem em seu jogo. “No CS é como se eu estivesse em casa. É emoção, conforto, dedicação; é uma das únicas coisas que eu sei o que tô fazendo da minha vida”, conta.

 

O que motiva a jogadora, a equipe do Drop Dead Twice, e tantos outros que se aventuram na indústria é o amor incondicional pelos videogames. E você, está pronto para jogar? PRESS START.

O claro! é produzido pelos alunos do 3º ano de graduação em Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo - Suplemento.

Tiragem impressa: 5.000 exemplares

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