Os dois disparam em direção ao pique, mas Mário chega primeiro. Ele tinha duas preocupações: uma delas era bater o nome dos colegas na parede de sua casa. “Um dois três Élder! Ufa, peguei o mais rápido e o mais esperto. Faltam só dois.”
Doce engano. A segunda preocupação do menino aparece na janela de casa: “Máriooo! Vem tomar banho! Já tá ficando escuro, filho.” “Deixa só acabar essa rodada…” “Mário César! Já pra casa. E não feche essa cara, se não…”
A ameaça foi suficiente. Game Over, Mário. “Você tem que entender que a vida não é só diversão, filho… Mas eu te amo, viu?”
“Gira a roleta aí, Mário. Sua vez.” A rua deu lugar à mesa central da sala, enquanto a correria foi substituída pelo tabuleiro. “Seis! Um, dois, três, quatro, cinco, seis. Dia do casamento! Receba os presentes”. Nessa fase da vida, puberdade é piada pronta. “Ih, o Mário se casou! Finalmente vai tirar esse bigode?” “Fica quieto, Élder.” “Como você quer que a Joana olhe para você com essa taturana na cara?”. Vermelho como um pimentão, o adolescente explodiu. Jogou o tabuleiro para cima, espalhou todas as peças e acabou com o jogo.
De castigo, o esquentadinho recebeu mais um capítulo do tutorial da vida. “Pai, eles ficam zoando dos meus pelos!” “É uma fase, filho… Já pensou se explodir desse jeito sempre? Você vai aprender a superar. ” Game Over, Mário.
“Amor, que inferno. Amanhã tem prova de estatística. Tudo que eu sei dessa matéria é que estou 13/8”. Esse número representava suas matanças e suas mortes no Counter Strike. Enquanto Mário metralhava os problemas, Joana tentava pela última vez mudar o jeito do rapaz.
“Você está viciado! Como vai se tornar um engenheiro se só pensa nisso?” escreveu a jovem no MSN. “Faz parte, Jô. A vida é um jogo. Só estou treinando para ela”, disfarçou. “Eu desisto… Vou embora… Por que você é assim? Acho que não vamos funcionar juntos… Preciso de um tempo para pensar…” A tradicional frase que antecede o fim. Game Over, Mário.
Era fim de expediente. O senhor Mário César foi chamado no escritório do temido chefão. “Dizem que ninguém nunca conseguiu passar dessa sala sem uma notícia ruim”, provocou o mestre de obras que sentava ao seu lado. “Estou acostumado a desafios”, retrucou, com medo.
O lugar era escuro e cheirava a fechado. A voz de trovão anunciou: “Estamos passando por momentos difíceis e precisamos fazer uns cortes. É com pesar que digo isso, mas o senhor está sendo desligado.” O homem quase chutou a mesa, mas conseguiu se controlar. Próximo passo, RH. Próxima fase, desemprego. Game Over, Mário. “E aí, vamos recomeçar?”, pergunta Joana.