Diariamente, alguns distintos senhores e senhoras se reúnem para a já tradicional partida de dominó na Praça dos Três Poderes, pelas bandas de Brasília. A jogatina tem uma só diferença para as das demais praças e calçadas pelo país: é a única televisionada, com milhões de espectadores a observar cada pedra nova disposta sobre a mesa. Já tem gente dizendo que o esporte vai desbancar o futebol como a maior paixão nacional.
Vão marcando o placar geral e a coisa parece feia para D, sua dupla titular faz tempo que não aparece na praça. Antes líder do ranking, D ainda não aceita os membros de sua equipe que pularam para o lado de T, que não anda exatamente bem das pernas. J até inventou de mexer com os amigos do arquirrival C, que é do tipo de jogador que não larga o osso.
No fim do dia, quando a partida acaba, nem precisam dizer “amanhã no mesmo horário?”, porque bicho velho de dominó sabe que a revanche está sempre marcada para o outro dia. Cada um volta para casa e os jornalistas passam a reportar os bastidores das equipes, treinos, contratações e, mais frequente por esses tempos, rescisões de contrato.
Há quem lembre que, em poucos meses, começam as partidas municipais. Mas aí, negócios à parte. Tem gente que, em Brasília, jamais ia jogar junto. O time de D anda dizendo que vai se afastar da trupe de T nos municípios, mas nem tanto, vão “examinar caso a caso”. Ora, é paixão nacional, o importante é somar vitórias pelo país. Lá na capital o negócio segue acirrado e sem data para terminar.
D manuseia sua pilha de fichas, que já foi menor, e aguarda uma mão boa para dar all-in. Exilado, C parece ter tirado a carta-objetivo “Destruir totalmente os exércitos vermelhos”, mas há umas boas rodadas só toca nos dados amarelos. Jogando ao lado do filho pequeno, T segue numa sequência de “volte duas casas”. J aposta que foi o Sr. Marinho no escritório, só lhe resta descobrir como. Olho no peões.