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Olho no lance

 

Por Roberta Vassalo

 

A bola vai rolando no gramado, os jogadores atrás. Três lutam pela posse, outros dois mais distantes se preparam para recebê-la. O outro time intercepta. Na arquibancada, a torcida levanta e grita. O barulho, inversamente proporcional à distância entre a bola e o gol, é cada vez maior. Em meio ao alvoroço, um único integrante com a vestimenta de cor diferente e apito no pescoço, corre para observar o lance. O atacante se prepara para chutar, mas é derrubado. O juiz apita. “Ei, juiz, vai tomar no cu!”

 

Dentro de um salão, parado, olhando para a bolinha que saltita freneticamente de um lado para o outro até que um dos jogadores golpeia o ar com a raquete e o jogo para. Tem o dever de olhar fixamente a repetição até que chegue o 11º ponto do set. Manter a atenção no tênis de mesa não é para qualquer um, afinal, não é à toa que a modalidade não é conhecida por ter torcidas alvoroçadas — ou qualquer torcida. No xadrez é a mesma coisa, mas o inconveniente é outro. Na maior parte do tempo, parece que nada acontece. Podem passar minutos até que uma peça seja movimentada no tabuleiro.

 

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Conhecedor do jogo melhor que ninguém, corre tanto quanto o jogador de futebol, mantém a concentração de um atleta de tênis de mesa, mas nem um troféu almeja. Arbitrar definitivamente não está entre os ofícios de maior apelo no universo esportivo. “Me tornei árbitro mais por necessidade, por falta de gente que tinha ambição ou vontade de ser”, confirma um dos maiores nomes do xadrez mundial, Herman Claudius. Para ele, que já competiu nos principais campeonatos do mundo, a arbitragem é só mais uma das atividades relacionadas ao esporte à qual se dedica.

 

Ao final da coluna da página de Esportes do Estadão em 6 de fevereiro de 99, de sua autoria, era anunciado o curso de arbitragem da modalidade que o próprio autor ministraria no final do mês. A coluna de xadrez, publicada todos os sábados, chegaria ao seu fim dois anos depois, ao contrário da carreira em arbitragem, que ainda contaria com campeonatos como a final do mundial, em 2005.

 

O convite para arbitrar geralmente envolve viagens e dias de dedicação completa. O clima de amizade com outros árbitros é o que encoraja Maurel Luchiari, técnico de tênis de mesa, que arbitra jogos há 20 anos. “Na viagem é só falando de tênis de mesa, sobre cada jogador. Na volta, é sempre comentando o que cada um fez e o que não fez, trocando experiências.”


A remuneração é baixa. A carga horária, não. Mesmo assim, para Herman, o trabalho já foi significativo complemento em sua renda. “Ser jogador de xadrez não é tao simples, as pessoas não conseguem viver só de premiação, então você acaba buscando alternativas e a arbitragem é uma delas.” O primeiro a chegar no salão termina 
a jornada com o aperto de mão dos jogadores após a última rodada do dia. Fim de papo.

 

O claro! é produzido pelos alunos do 3º ano de graduação em Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo - Suplemento.

Tiragem impressa: 5.000 exemplares

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