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Não é de crítica que crítico gosta?

 

Por Julio Viana

 

Toda vez, antes de pagar o ingresso do cinema, a gente escuta:

“Espera um pouco, mas esse filme é bom mesmo?”

“É claro que é bom, eu vi e tem 96% de ranking no Rotten Tomatoes, além de uma crítica aí falando bem que tava rodando pelo Face.”

“Ah então tá.”

O preço do ingresso está, em média, uns 20 reais. Uma quantia valiosa nos dias de hoje. Quem investe quer fazer valer o seu dinheiro. Por isso mesmo, as  tais críticas são os termômetros de segurança nesses casos.

Mas para jornalistas que se propõem a analisar filmes como Matheus Pichonelli, que escreve para o Carta Capital, o “sistema de críticas” é absolutamente relativo: “A ideia é compartilhar a descrição de cenas, momentos e eventos com o público e a produção, e não necessariamente dizer se ela é boa ou ruim, o que em si reduz muito as possibilidades de leituras sobre ela.”

Para ele, o critério para análise de filmes é o contraponto que eles possibilitam em relação a nossa realidade. Segundo Pichonelli: “se ele [o filme] apontar caminhos e ampliar visões sobre determinado assunto que diz respeito a um momento e contexto, mesmo que se passe em um país distante, a análise é sempre válida.”

Hoje, ele prefere não escrever sobre filmes que não gosta, a não ser que seja uma grande produção: “Avaliei de forma negativa alguns filmes logo que comecei a escrever, mas me arrependi delas porque são geralmente filmes independentes que já não têm, de saída, um público formado.”

O trabalho de crítica, portanto, é mais predisposto ao debate do que para muitos aparenta ser. O jornalista conta como foi significativo para ele ouvir de uma leitora que uma de suas análises havia sido heteronormativa, por exemplo.

Não é a toa que ele afirma se arrepender de quase todos os textos que publica. Todos nós já tivemos a experiência de assistir a um filme novamente e ter uma ideia totalmente diferente sobre ele, para o crítico não é diferente. Principalmente em relação a seus textos: “também muda a forma como [a gente] lê, escreve ou interpreta os textos, de modo que alguns anos depois eles parecem algo entre o ingênuo, o antiquado e o insuficiente.”

Ao final do filme, o diálogo é bem diferente:

“Nossa, mas esse bando de gente falando bem do filme e eu não entendi nada.”

“Nem eu, teria sido melhor ter ido ver o filme do Pelé.”

Como Pichonelli também aponta: “há muito filme que a crítica fez troça e que lotou salas de cinema, e muitos elogiados que foram vistos por poucas pessoas.” O crítico, afinal, tem pouco interesse em determinar o sucesso de um filme. Ele quer, simplesmente, bater um papo.

Toda vez, antes de ir ao cinema e pagar o ingresso, se escuta um diálogo mais ou menos assim:

“Espera um pouco, mas esse filme é bom mesmo?”

“É claro que é bom, eu vi e tem 96% de ranking no Rotten Tomatoes, além de uma crítica aí falando bem que tava rodando pelo Face.”

“Ah então tá.”

O preço do ingresso está, em média, uns 20 reais. Se você for pensar, uma pequena fortuna nos dias de hoje. Quem investe essa quantia quer fazer valer o seu dinheiro.

Por isso as pessoas parecem tão obcecadas com a opinião alheia. Principalmente (e paradoxalmente) quando o assunto é algo tão subjetivo como o cinema.

Mesmo para jornalistas que se propoe a analisar filmes como Matheus Pichonelli, que escreve para o Carta Capital, o “sistema de críticas” é absolutamente relativo: “A ideia é compartilhar a descrição de cenas, momentos e eventos com o público e a produção, e não necessariamente dizer se ela é boa ou ruim, o que em si reduz muito as possibilidades de leituras sobre ela.” Ele mesmo afirma que prefere não chamar seus textos de “críticas” por conta dessa opinião. Ao invés disso, as chama de crônicas.

Para ele, o critério para análise de filmes é o contraponto que eles possibilitam em relação a nossa realidade. Segundo Pichonelli: “se ele [o filme] apontar caminhos e ampliar visões sobre determinado assunto que diz respeito a determinado momento e contexto, mesmo que se passe em um país distante, a análise é sempre válida.”

Hoje, ele prefere não escrever sobre filmes que não gosta:  “Avaliei de forma negativa alguns filmes logo que comecei a escrever, mas me arrependi delas porque são geralmente filmes independentes que já não têm, de saída, um público formado. Acho sempre melhor não falar nesses casos. A não ser que se trate de uma superprodução supervalorizada, aí talvez valha fazer um exercício de contraponto.”

O trabalho de crítica, portanto, torna-se fluido, mais predisposto ao debate do que para muitos aparenta ser. O jornalista conta como foi significativo para ele ouvir de uma leitora que uma de suas análises havia sido heteronormativa. “É a parte boa de estar em contato com o leitor: eles nos apontam caminhos, e também falhas que podemos cometer.”

Não é a toa que ele afirma se arrepender de quase todos os textos que publica. Como a experiência que todos nós já vivemos de assistir a um filme novamente e ter uma ideia totalmente diferente sobre ele, para o crítico não é diferente. Principalmente em relação a seus textos: “também muda a forma como [a gente] lê, escreve ou interpreta

O claro! é produzido pelos alunos do 3º ano de graduação em Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo - Suplemento.

Tiragem impressa: 5.000 exemplares

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