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O poder do faz-de-conta

 

Por Nyle Ferrari

 

Contar e ouvir histórias são, talvez, as mais antigas e persistentes formas de entretenimento: segundo especialistas em literatura e evolução como Brian Boyd e Jonathan Gottschall, os homens primitivos já adotavam essa prática. Com isso, além de ocupar o tempo, buscavam organizar a realidade, dar sentido a ela e aproximar toda a comunidade. De quebra, aprendiam sobre a vida e passavam esses conhecimentos adiante. Não é à toa que assistimos séries para nos distrair ou tentamos transmitir algo a nossos amigos através de textões no Facebook. Isso faz parte de nós.

 

De lá para cá, a capacidade humana de contar histórias foi desenvolvida de maneira tal que conseguimos criar mundos alternativos (e muito complexos) através delas. Para os filósofos Peter Lamarque e Sloan H. Olsen, autores de “Truth, Fiction and Literature”, a ficção não exige nenhum compromisso com a realidade: bastam alguns elementos para tornar a história minimamente crível, e um enredo que deixe claro como aquele mundo criado funciona, e voilá, tudo se torna possível, e nós acreditamos.

 

Em sua tese de doutorado, “O poder do irreal: um estudo sobre o potencial cognitivo da ficção”, o pesquisador mineiro José Costa Júnior ainda reforça que somos capazes de aprender com as ficções. “A narrativa nos proporciona uma quase-experiência. Através dela temos vivências de algum modo parecidas com aquelas que humanos têm, e isso gera aprendizado”, conta. Em outras palavras, ao assistir um filme que se passa na década de 1920, por exemplo, somos transportados à aquela época, observamos como as pessoas se comportam. E assim aprendemos sobre aquele período, mesmo sem nunca ter vivido nele.

Um dos roteiristas e diretores da série “3%”, com estreia na Netflix em novembro, João Henrique Crema acredita que a ficção pode ser uma fuga da realidade, mas também uma forma de compreendê-la melhor, em toda sua complexidade. A série se passa num futuro distópico no qual o planeta está devastado e dividido, e somente 3% consegue passar por um teste e chegar na parte do mundo onde ainda há prosperidade. “É uma metáfora para as seleções que enfrentamos ao longo da vida. Através dessa possibilidade ruim de mundo, a gente pensa sobre o nosso próprio e para onde a gente está caminhando.”, diz Crema.

 

O claro! é produzido pelos alunos do 3º ano de graduação em Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo - Suplemento.

Tiragem impressa: 5.000 exemplares

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