Freud está sozinho em seu escritório. É uma noite de tempestade e ele está velho, cansado, mas logo ela chega para atrapalhar seu descanso: batendo na porta de vidro e gritando, Jéssica pede para entrar, e não sai dali até conseguir o que quer. Sem sucesso com os gritos, ela puxa uma navalha.
Mulher intensa, impulsiva, Jéssica entra com seus cabelos curtos e um vestido roxo que acaba jogado no jardim do psicanalista quando ele se recusa a atendê-la. Incansável, ela tenta seduzi-lo, incomodá-lo. Vai brincando com ele até revelar a que realmente veio: quer questionar suas teorias e confrontá-lo a respeito do machismo nelas presente.
Estrela da peça Histeria, Jéssica é a mais recente das personagens interpretadas pela atriz Erica Montanheiro, e uma das mais marcantes.
Mas antes disso Erica foi Teresinha, personagem da Ópera do Malandro de Chico Buarque. Teresinha é ambiciosa. Filha de donos de bordel, ela é o retrato de uma classe que não faz parte da elite, mas que almeja ascender socialmente. Se apaixona pelo malandro, casa-se com ele e acaba o dominando: quer colocar nele seu espírito empreendedor.
E antes disso Erica já foi Angelique, na peça O Libertino; Hérmia, em Sonhos de uma noite de verão; além de muitas outras, em seus 20 anos de carreira. Para ela, o que faz com que se identifique com uma personagem é entender qual é seu discurso: O que aquela figura quer dizer? O que ela significa? O que ela vai comunicar para o público, o que o público vai sair pensando? Vai se emocionar ou vai rir dela?
Ela diz que às vezes pode pensar que nunca agiria como alguma personagem, mas o que interessa é como ela conta aquela história. “Aí não importa a característica da personagem, se ela é rica, pobre, se ela é mimada, se ela é engraçada. Isso a gente constroi. O que me interessa é o discurso que elas carregam, o que elas estão dizendo”.