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Superior? Em quê?

 

Por Juliana Brocanelli

 

Correr, nadar, ouvir, sentir. Os seres humanos são capazes de todas essas habilidades, mas certamente não são os melhores em nenhuma delas. Para início de conversa, podemos falar da inacreditável velocidade do peixe-espada, que chega a 110 km/h no fundo do mar. Apesar disso, estamos no suposto topo da cadeia alimentar diz a teoria darwinista que “as espécies que sobrevivem não são as espécies mais fortes, nem as mais inteligentes, e sim aquelas que se adaptam melhor às mudanças”.

 

A adaptação humana ao ambiente é, de fato, satisfatória — ainda que não dominemos todas as capacidades físicas, criamos meios de transpor as barreiras dos nossos corpos. O desafio seguinte passou a ser compreender aquilo que a maior parte dos cientistas aponta como a causa de nossa humanidade e “superioridade” frente às demais espécies: a complexa formação da mente e nossos sentimentos.

 

De tempos em tempos, a humanidade é apresentada a uma nova descoberta que a aproxima ainda mais da formação orgânica da Natureza. No livro Beyond Words: What Animals Think and Feel, de 2015, por exemplo, Carl Safina, da Universidade de Stony Brook, sugeriu que os animais podem ter sentimentos mais complexos que os humanos. Isso porque, segundo ele, espécies diversas têm contato com diferentes estímulos e ambientes. No documentário Blackfish: Fúria Animal, soubemos que as baleias orcas possuem uma parte do cérebro responsável pelo processamento de emoções que nós não possuímos.

 

Pesquisas recentes — como a de Tiago Bortolini e Maria Emília Yamamoto, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, publicada em 2013 — levantam a hipótese da religião como um comportamento adaptativo que favorece a vida em grupo. Sem a noção de rituais místicos, no entanto, feito semelhante pode ser observado em comunidades de lobos (que possuem uma rígida hierarquia) com efeitos próximos: manutenção e proteção da espécie.

 

Outro dos pilares teóricos da “essência humana” tem caído por terra: a cultura. Os golfinhos, soubemos recentemente, não só desenvolveram tradições culturais — técnicas de caça ensinadas exclusivamente pelas mães às filhas —, como as perpetuam através das gerações.

 

Dia após dia, a concepção de humanidade se aproxima da magnificente organização da Natureza e nos faz repensar o que de fato nos difere dos demais animais. Afinal, sentir, se comunicar, criar tradições: nem só os seres humanos são dotados dessas refinadas capacidades cognitivas. Que não seja a crueldade e frieza a cisão definitiva entre as espécies.

 

O claro! é produzido pelos alunos do 3º ano de graduação em Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo - Suplemento.

Tiragem impressa: 5.000 exemplares

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