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Lar agridoce

 

Por Bruna Martins

 

Hoje foi um dia daqueles.

Professor passou várias atividades, não parei um minuto no estágio. To chegando em casa agora e ainda tenho que fazer minha janta. Se é que dá pra chamar miojo de “janta”.

Meu pensamento de repente vai lá pra casa da minha mãe – que até outro dia ainda era minha casa também. Consigo sentir o cheiro do estrogonofe que só ela sabe fazer. Meu estômago ronca. À essa hora eu estaria encontrando a comida quentinha na panela, meu cachorro já teria vindo pulando nas minhas pernas para eu brincar com ele.

Mas eu tô aqui, sozinha no meu apê, me perguntando quando eu vou ter tempo de limpar a poeira que já tá se acumulando na escrivaninha.

“Tudo bem, Bruna, porque o que importa é que amanhã a galera vai vir em casa e a noite vai ser louca”, eu penso.

Com meus 15 anos eu sonhava com o dia em que ia poder dar uma festa na minha própria casa. Para mim, aquele seria meu ponto máximo de liberdade.

E eu acho que é quase isso.

Hoje eu faço meus horários, moldo minha rotina, não dependo mais de permissões.

Mas liberdade é uma coisa esquisita, né.

A mesma liberdade que te solta para uma rotina que é só tua também pode te prender num emaranhado de inseguranças. Às vezes dar um primeiro passo não é tão fácil quando não se tem um apoio por trás.

Eu olho pro cesto de roupas sujas e lembro que ia lavá-las hoje, aproveitar que está calor. Mas acabou o sabão em pó, esqueci de comprar mais, e agora?

Preciso resolver isso no mercado amanhã. Aproveito e já passo no banco e pago as contas. Aproveito e já procuro mais coisas que eu tô precisando – estabilidade emocional, sono regulado, saúde física e mental. Quem sabe.

A vida às vezes nos tira essas coisas e a gente nem se dá conta.

Mas acho que ser adulta é isso. É ter que morar – e me virar – sozinha, sair da bolha de proteção afetiva, me jogar em experiências nas quais só eu posso cuidar de mim. Crescer.

É viver essa constante busca de equilíbrio entre meus desejos e minhas necessidades. Colocar um pouco de mim em cada coisa que eu faço.

Agora o relógio já tá marcando dez horas, o tempo corre e eu nem percebo mais. É melhor eu fazer comida logo e terminar o trabalho para a próxima aula. Amanhã o dia vai ser longo.

 

O claro! é produzido pelos alunos do 3º ano de graduação em Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo - Suplemento.

Tiragem impressa: 5.000 exemplares

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