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No rastro do futuro

 

Por clarousp

 

Cidade do futuro 2

Por Carla Monteiro e Felipe Saturnino

“Posso tentar…”, hesita Lucia De Santi, estudante do ensino médio de poucas palavras, perguntada sobre como será o mundo em 50 anos. O exercício é complexo: pode-se (e isso é bem provável) errar feio e rude. Há quem prefira não se arriscar. “Não faço futurologia”, responde José Eli da Veiga, importante nome da sustentabilidade no Brasil. Ele recusou falar sobre o assunto. Para alguns — como foi o seu caso —, aceitar o risco de conjecturar só é demais. De Santi, no entanto, não tem o que temer.

 

“A qualidade de vida vai estar cada vez maior”, diz ela. “As cidades serão cada vez mais verticalizadas”, afirma ela, vagamente. É sobre tecnologia, no entanto, que fará o comentário de maior certeza: “Tudo estará bem tecnológico”, divaga, a princípio. “As coisas serão feitas pela rede, como funções de casa, e tudo, claro, por meio de inteligência artificial.”

 

Quando fala nas tarefas que serão executadas pela rede, De Santi se refere à internet das coisas. Se 50 anos atrás um adolescente fosse perguntado sobre o mundo integrado, ele não saberia nem de internet muito menos internet das coisas. E hoje, se a IA (Inteligência Artificial) já está por aí, no futuro, estará bem mais. Controle da casa ou mesmo do automóvel através de seus mecanismos são mais comuns do que se imagina.

 

“A única coisa que a gente sabe sobre daqui a 50 anos é que todas as previsões vão estar erradas”, provoca Marcelo Finger, professor de Ciência da Computação do Instituto de Matemática e Estatística da USP. Apesar da primeira frase de seu e-mail de resposta, ele se entrega ao risco. Finger, pesquisador da área de IA, sugere que, no futuro, técnicas do campo se tornarão cada vez mais “cotidianas” na vida da civilização. Em tom mais rebuscado, é o mesmo palpite da estudante de poucas palavras.

 

“Identificação biométrica (como ser reconhecido automaticamente por uma câmera), carros autônomos (sem motorista), ativação de dispositivos por comando de voz, por exemplo”, afirma ele. “Coisas desse tipo, que quase existem hoje, deverão existir no futuro. E serão banais.”

 

Há também quem sonhe com um mundo mais simples, não tão mecanizado, como o estudante de psicologia Felipe Moreira Borges, que questiona o modus operandi das pessoas. “Elas terão menos apego material e a ética do trabalho, tão forte nos últimos tempos, fará com que as gerações se cansem disso. O mundo será mais simples e humano”, observa, crente num mundo mais tolerante.

 

É também sobre tolerância que fala Cláudia Custódio, militante LGBT e jornalista esportiva do canal ESPN. Ela começa a conversa com o contexto de opressão em uma época em que para ela o conservadorismo, fanatismo religioso falam mais alto que educação e respeito. De fato, ataques da bancada conservadora do Congresso não se limitam aos discursos, mas alcançam projetos de lei homofóbicos como o da ‘cura gay’.

 

Apesar de tudo, a causa LGBT ganhou mais representatividade. Há 50 anos, pouco se falava dela. Hoje, sua defesa é mais comum. O caminho para o respeito, porém, ainda é longo e é bem provável que o futuro guarde surpresas. “Eu acho que daqui 50 anos, se tudo continuar nesse ritmo e nenhuma loucura acontecer no mundo, as coisas serão muito mais naturais para a população LGBT e, logo, muito mais respeito com as diferenças de sexualidade”, diz Cláudia, confiante.

 

Confia-se, também, muito na ciência. Parece que ela está sempre para trás: atrás de doenças que não tem cura ou das enfermidades que ainda não existem. Mas convenhamos: quem arriscaria que um dia o órgão de um ser humano poderia salvar a vida de outro? Aliás, como assim abrir a barriga de uma mulher, tirar um bebê lá de dentro e depois costurar e ficar tudo bem? E as doenças que pareciam incuráveis e que detonariam a humanidade, mas que hoje são curadas em uma semana? Anos atrás, não se pensava nisso. Quais seriam, então, hoje, nossos pontos cegos nesse olhar para o futuro? Não sabemos. Temos que seguir seu rastro para descobrir.

 

 

 

 

 

O claro! é produzido pelos alunos do 3º ano de graduação em Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo - Suplemento.

Tiragem impressa: 5.000 exemplares

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