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“Olha, mãe, é o Batman!”

 

Por Bianka Vieira

 

A festa no buffet começaria dali a duas horas, mas eu já tinha o capuz sobre meus cabelos, uma cesta de doces em minhas mãos e certa dose de ansiedade correndo em minhas veias. É que eu amava ser a Chapeuzinho Vermelho, embora não soubesse se por causa do meu amor pelo conto ou pelo alívio de não ter que repetir a fantasia de Elsa, aquela do Frozen, pela milésima vez no mesmo mês.

 

Mulher Maravilha, Homem Aranha, Emília, Peter Pan, Princesa Leia: não é exagero quando digo que já fui de tudo nessa vida. Mas, no final das contas, não era a fantasia em si — fosse ela nova ou repetida — o que mais importava para mim. De cada festa, o que ficava era o carinho pelos olhares cintilantes vindos em minha direção e por cada sorriso arrancado de uma criança. A doçura delas em acreditar estar cara a cara com seu personagem favorito me encantava. É como se a cada “olha, mãe, é o Batman!!!” eu soubesse como é estar diante daquele super-herói que marcou a minha infância. Era mágico. O poder da imaginação é realmente uma dádiva.

 

Mas é claro que nem tudo são flores. As fantasias, invariavelmente apertadas, incomodavam tanto quanto a necessidade de estar impecável mesmo sob prova do suor que insistia em escorrer até nos dias mais frios. E os pequenos, apesar de fofos, já me colocaram em cada saia justa… uma vez, quando me vesti de Palhaço Bananinha, inventaram de puxar minhas calças na tentativa de descobrir minha identidade. Sorte a minha que, por baixo da calça, havia uma ceroula com um coração enorme costurado no bumbum. Até aí, ok, foi mais divertido do que constrangedor; complicado mesmo foi quando umas crianças mais velhas contaram para as mais novas — e inclua entre as vítimas também o aniversariante — que eu não era a personagem de verdade. Elas até choraram!

 

Apesar dos perrengues, era na possibilidade de se transportar prum outro mundo que eu encontrava a certeza de estar fazendo algo gratificante, que valia à pena. Ao trabalhar fantasiados, nos reportamos a um universo diferente da vida cotidiana, onde podemos incorporar outros “alguéns” e ser parte do mundo imaginário de uma criança. Talvez por isso a experiência de vê-las vindo em minha direção, bestificadas, querendo um abraço ou uma foto, seja, para mim, algo que não se explique ou se compre.

 

Vendo essa foto da minha última recreação, no dia em que fui Chapeuzinho, bate uma nostalgia e um bocado de saudade, mas isso tudo ficou para trás. Hoje, eu até que gosto de trabalhar com contabilidade, mas a diversão não é algo que ainda faça parte da minha rotina. Fazer o que, um dia todos temos que crescer (ao menos, é o que dizem por aí).

 

*Texto baseado nos depoimentos de Fernando Caruso, Núbia Soares, Tryssia Siqueira e Mariana Prado

 

O claro! é produzido pelos alunos do 3º ano de graduação em Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo - Suplemento.

Tiragem impressa: 5.000 exemplares

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