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Por que criamos tantas teorias da conspiração

 

Por Nara Siqueira

 

 

Dois disparos. O primeiro saiu pela garganta. O segundo, responsável por esvaziar a vida de John Kennedy pela cabeça. Era 22 de novembro de 1963 e os Estados Unidos perdiam aquele que fora seu trigésimo quinto presidente.

 

 

O atirador, Lee Oswald, foi assassinado dois dias depois por Jack Ruby, dono de uma boate de Dallas, diante de várias testemunhas. Seria uma tentativa de calar aquele que poderia revelar o verdadeiro mandante do crime contra o Kennedy? E quem seria o mandante?

 

 

A CIA, motivada por um suposto comentário do presidente que prometia acabar com a Central de Inteligência? Foi Lyndon Johnson, tendo em vista seu desejo de assumir o maior cargo político do país? Ou os responsáveis foram os  Illuminati, a grande sociedade secreta que controla o mundo todo?

 

 

As teorias acima são algumas das que permeiam o episódio de 50 anos atrás. Os papéis secretos, os bilhetes rasgados, as fotografias queimadas: todos os resquícios são utilizados por aqueles que acreditam nas chamadas teorias da conspiração. Para os conspiratórios, os grandes eventos são previstos bem antes de acontecerem e há diversas organizações engajadas em tramar situações consideradas prejudiciais. O objetivo final seria desestabilizar o sistema vigente.

 

 

Mas por que essas teorias têm apelo e tantos adeptos, mesmo na escassez de respaldo científico?

 

 

No livro “Suspicious Minds: Why We Believe Conspiracy Theories” (lançado em 2015 e ainda sem tradução para o português), o autor e psicólogo Rob Brotherton apresenta a chamada ‘programação mental’: uma tendência natural que adquirimos de nossos ancestrais em suspeitar que uma conspiração está instaurada. Para eles, quando algo fugia da padrão, era sinal que existia o risco de um ataque selvagem. Tal comportamento foi fundamental para a evolução da espécie.

 

 

A ausência de padrão foi motivo do fracasso da Coca-Cola ao se lançar, em 1985, como a New Coke. Conspiratórios dizem que os executivos da companhia já sabiam que o produto daria errado e tudo não passou de uma jogada de marketing. Ao criar uma versão inferior do refrigerante, os consumidores sentiriam falta da original e comprariam em maior quantidade assim que ela voltasse às prateleiras. Não foi, portanto, uma tentativa de inovação, mas sim uma estratégia de lucro exponencial.

 

 

Se a psicologia apresenta uma razão inerente ao ser humano, a comunicação traz a perspectiva da necessidade: “precisamos encontrar respostas para aquilo que nos surpreende ou que exige um tempo de elaboração”, explica Caroline Sotilo, professora e doutora em comunicação e semiótica.

 

 

Além disso, existe a questão da memória coletiva. Os acontecimentos não terminam em si mesmos, uma vez que são retomados por todas as plataformas de conteúdo a que temos acesso: meios de comunicação, redes sociais, materiais didáticos e suplementos. “A repetição do fato nos faz dar essa notoriedade a ele”, diz Caroline. Nesse cenário, despontam as teorias conspiratórias.

 

 

“Em um sistema tradicional, o historiador era detentor do conhecimento. Isto é, cabia a ele decidir, dar lugar e valor a este”, aponta a professora. A evolução das tecnologias (e o consequente aumento de informações) permitiu que o acontecimento “se configurasse em uma construção externa: o imaginário pode se apropriar de qualquer fato cotidiano, transformando acontecimento em espetáculo”, conclui.

 

 

O claro! é produzido pelos alunos do 3º ano de graduação em Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo - Suplemento.

Tiragem impressa: 5.000 exemplares

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