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Morte e Vida

 

Por Amanda Panteri

 

 

Tem gente que jura de pé junto que eu nasci antes, mas quando me perguntam, eu não tenho receio em afirmar que eu só me reconheço com vida a partir de 2013.

 

O meu nome até então era Praça Homero Silva. Eu era mal frequentada, mal cuidada e cheia de lixo e entulho, o que acabava com as poucas chances de eu, um espaço público no meio da cidade, ser habitat para alguma espécie – apesar dos meus quase 12 mil metros quadrados.

 

O meu renascimento começou quando um grupo de moradores da Pompeia resolveu dar-me uma mãozinha e ajudar no projeto da minha revitalização. Foram meses intensos de retirada do que não prestava, de plantação de árvores, até descobrirem o que tenho de mais precioso. Eu carrego comigo a responsabilidade de ser terreno de duas nascentes do Córrego Água Preta.

 

Depois da descoberta, a preocupação com a minha preservação aumentou. Fui cuidada por geólogos e hidrólogos, que canalizaram parte das nascentes para a construção de um lago, e hoje sirvo de casa para mais de 80 espécies de animais.
Comecei a receber visitas e mais visitas e, desde então, já fui palco de nove festivais musicais, um batizado, uma festa de aniversário, e pasmem, um casamento.

 

A parte legal dessa história, infelizmente, acaba aqui. Há três anos, uma incorporadora resolveu comprar as nove casas de um terreno vizinho ao meu para levantar um prédio comercial e residencial de 22 andares e três subsolos.

 

As demolições começaram, e foi então que descobriram que esse lugar, agora um buraco enorme, também tem as suas preciosidades e é dono de suas próprias nascentes.

 

A construção do edifício demandaria o descarte dessa água por meio das sarjetas da rua. E o mais grave: como o lençol freático do lugar está interligado, as minhas águas provavelmente seriam sugadas também.

 

Isso não foi motivo para que meu grupo de amigos, agora mobilizados no Coletivo Ocupe e Abrace, desanimasse. Eles levaram os meus documentos, emitidos pelo Instituto Geográfico e Cartográfico, ao Ministério Público Federal e comprovaram que eu abrigo as nascentes, o que impossibilita que qualquer tipo de construção seja feita a um raio de 50 metros de mim.

 

A responsável pela obra não ficou nem um pouco contente com a ação do coletivo, e pediu um alvará de construção para a Secretaria de Licenciamento do município.

 

A situação de agora se resume em disputa: de um lado, a detentora do capital; do outro as organizações civis, que querem defender o espaço público e o meio ambiente. Cabe ao Estado, então, decidir pelo equilíbrio.

 

O claro! é produzido pelos alunos do 3º ano de graduação em Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo - Suplemento.

Tiragem impressa: 5.000 exemplares

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