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Outra história

 

Por Natalia Belizario

 

 

Em agosto, manifestantes de extrema direita foram para as ruas de Charlottesville, no estado da Virgínia (EUA), protestar contra a retirada da estátua de Robert E. Lee, um dos principais líderes dos confederados, grupo que, na Guerra de Secessão, defendia a manutenção da escravidão no país. A manifestação acabou com diversas pessoas feridas e uma morta, após um manifestante racista acelerar seu carro contra um grupo antifascista, que era a favor da retirada do monumento. Parte da população dos EUA mostrou que não mais aceitará discursos racistas, questionando inclusive uma figura marcante de sua própria história que, a partir deste episódio, ganhou um novo significado. Após esse episódio, a figura de Lee ganhou um outro significado.

 

No Brasil, também existem figuras que tiveram sua construção histórica fundada sobre controvérsias. Mas, assim como nos EUA, não há unanimidade sobre o questionamento desses personagens. É o caso dos bandeirantes paulistas, sertanistas do período colonial que, em busca de riquezas e escravos, adentraram o território brasileiro e acabaram sendo responsáveis por expandir o limite imposto pelo Tratado de Tordesilhas. Ainda que esse último feito não tenha sido o motivo de sua ação, é sobre ele que está fundada a construção histórica do grupo.

 

Homenageados em estradas e monumentos do estado de São Paulo, os bandeirantes são vistos como heróis, apesar de terem escravizado e exterminado as populações negra e indígena. O Monumento às Bandeiras, um dos principais pontos turísticos de São Paulo, foi pintado de vermelho em 2013 durante protestos de indígenas, que questionavam a representatividade da estátua. Em 2016, novamente, não só o Monumento às Bandeiras, mas também a estátua do bandeirante Borba Gato, amanheceram pichadas. “Bandeirante ruralista assassino” foi escrito abaixo dos pés da figura.

 

Ainda assim, são episódios tímidos quando comparados aos de Charlottesville. E, segundo Marcus Toledo, historiador e bacharel em direito, a manutenção da construção dessa visão sobre os bandeirantes está ligada a um discurso de poder que tem consequências sociológicas até hoje. “Ainda existe por aqui um discurso conservador muito forte.” Mas, Marcus acredita que existe uma semelhança entre o Brasil e os EUA. “O que podemos observar em ambos os casos é que temos memórias criadas com objetivos determinados, e que de certa forma não se adequam a valores que se consolidam atualmente, como a luta pela solidificação de políticas de direitos humanos, a tolerância e a democracia.”

 

O claro! é produzido pelos alunos do 3º ano de graduação em Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo - Suplemento.

Tiragem impressa: 5.000 exemplares

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