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Rio, Brasília, paralisia

 

Por Mariana Goncalves

 

Um post recente num grupo do Facebook exibe o link para a manchete: “Criança tem paralisia após tomar vacina contra pólio em MG”. Quem mostra é a administradora do grupo, Iolanda Santos*, dedicada a “desmistificar” a vacinação nas redes sociais. “Você sabe o que realmente é a poliomielite?”, pergunta. “Será que as vacinas acabaram mesmo com as doenças?”. A provocação é em referência à erradicação da paralisia infantil no Brasil, que data de 1990, segundo o Ministério da Saúde.

 

Caracterizada pela flacidez muscular e paralisia motora, a poliomielite é uma doença que traz sequelas permanentes. Altamente transmissível, no passado fez epidemias no Brasil e no mundo. A reportagem trazida por Iolanda, sobre um caso de 2011, alertava para a suspeita de um bebê ter contraído paralisia pós-vacinal, evento que acontece a cada 2,3 milhões de doses, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Grupos antivacinistas, geralmente formados por chefes de família, têm justamente este medo: o de que os componentes das vacinas (agentes infecciosos ou substâncias químicas), ao invés de proteger, provoquem reações adversas ou a própria doença que tentam evitar.

 

Segundo a infectologista e integrante do comitê de imunizações da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), Rosana Richtmann, graças à vacinação, o Brasil combateu doenças como a pólio e a varíola, e todos devem tomar as doses necessárias. “As pessoas se enganam se acham que vão proteger suas crianças se não as vacinarem”, diz a pediatra e imunologista Kelly Oliveira, do Espaço Médico Descomplicado. Durante a infância, a imunidade e o sistema de defesa ainda estão em formação, e apenas as vacinas podem preveni-las contra algumas doenças. “Por isso são tantas doses no início da vida.”

 

“A gente tem dados, sim, mostrando que algumas vacinas têm mais chance de causar evento adverso”, conta Richtmann. Mas as complicações são leves e temporárias, com sintomas como febre e dor no corpo. Já as histórias do Facebook – onde se mostram crianças com hemorragias ou membros amputados – não têm confirmação na literatura médica. No caso do “efeito” do autismo, frequentemente citado entre antivacinistas, a pediatra reforça: é mentira.

 

“Se está erradicada, por que precisamos vacinar contra a paralisia?”, questiona  uma mãe na internet. Richtmann diz que é preciso que toda a população esteja vacinada para que o vírus deixe de circular. “Tem gente que não se vacina e, para justificar, diz que antigamente não era assim”, completa Oliveira. “Mas o mundo de hoje é outro.”

 

A erradicação também pode não ser o fim da história. Segundo a OMS, apesar do êxito das políticas de prevenção nas Américas, a poliomielite ainda existe no Paquistão, Afeganistão e Nigéria. “Como temos voos entre os países, ainda existe o risco de reintrodução do vírus”, afirma Richtmann. Apesar de remota, a possibilidade é um alerta para os profissionais de saúde, dada a gravidade da doença. “Se a gente diminuir nossas coberturas vacinais, se deixar de fazer os reforços… O vírus não está erradicado no mundo.”

 

*Nome fictício.

O claro! é produzido pelos alunos do 3º ano de graduação em Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo - Suplemento.

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