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O fim que todos esperamos

 

Por Jose Paulo Gomes

 
Olho para o relógio. Ainda faltam dez minutos. Mas parece que faltavam onze há meia hora. Não aguento mais esperar, só quero que o relógio atravesse o ponteiro da meia noite para ver o céu iluminado de várias cores.
Começo a olhar em volta e ver minha família. Percebo que não estou sozinho nos meus pensamentos de pessoa ansiosa. Até aquele meu tio mais calmo não para de olhar para o pulso e conferir o relógio. Será que agora a aposentadoria dele sai?
Minha mãe, que até há pouco não saía da cozinha, levando e trazendo comida, não se mexe mais. Colocou a roupa branca especial, separada exatamente para essa noite. Meu irmão vai prestar vestibular para medicina daqui uns dias. É a quinta vez que ele tenta. Nem para a festa veio.
Meu avô, que já estaria dormindo faz tempo, está acordado e também um pouco ansioso, mesmo já tendo passado por essa situação tantas vezes, mas esse ano é diferente, depois de 64 reveillons junto da vovó, ele agora está sozinho. Tranquilo mesmo, só o Pedro, mas com três meses ninguém é muito preocupado com nada.
O pai do Pedro, meu outro tio, tão cético e afastado dessas coisas da família, agora está aqui, produzido com uma das roupas que mais atraem superstições. A expressão no rosto é de quem não aguenta mais esperar. Ele precisa de um emprego para sustentar a criança.
O maior barulho que sobrou é o da televisão. Ou no máximo da criançada correndo lá no fundo, ainda sem entender muito o que está acontecendo.
Faz bem refletir nos momentos finais, por isso que essa família, que fala, fala e fala ainda mais, está tão quieta há tanto tempo.
O Pedro começa a chorar e causa um barulho que rompe o silêncio. Basta isso para todo mundo esquecer um pouco o que se passava, mas logo tudo termina e o menino se abraça à mãe.
E o choro que termina parece acalmar todo mundo. Como se as coisas ruins fossem embora com ele durante a virada do ano.
Dizem que existe uma mágica na noite do ano novo: assim que os ponteiros do relógio marcam meia noite, todos ganhamos um novo começo! Eu não sei quanto a você, mas eu não acredito nessas coisas. Se bem que meus tios, minha mãe, meu avô e talvez até eu poderíamos aproveitar bastante um novo começo!
Saberemos em dez..

O claro! é produzido pelos alunos do 3º ano de graduação em Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo - Suplemento.

Tiragem impressa: 5.000 exemplares

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