logotipo do Claro!

 

Onde o tempo não tem pressa

 

Por Gabriel Campos

 
Maria do Rosário Sosa, 53 anos, é dona da Pousada Sol de Verão, localizada no pacato vilarejo do litoral da Bahia. Maria cresceu no estado e hoje vive lá com o marido, irmã e duas primas. Mas ali, pouco tem ficado nos últimos anos. Viajar o mundo tem sido sua rotina. Depois de 44 países e quatro continentes, a próxima de suas paradas é na antiga cidade Inca de Machu Picchu. Apesar de nunca ter visitado o lugar, já o conhece. Falou sobre ele nas muitas aulas que lecionou em uma vida que ficou no passado, e já não existe mais.
Sosa, como era chamada pelos alunos, deixou Salvador ainda no ensino médio, finalizado em São Paulo, que se tornou sua casa por mais de duas décadas. Formou-se em história em 1987, aos vinte e três anos, quando, por necessidade, teve de abrir mão do sonho de seguir profissão na área, e ser historiadora, para ingressar no mundo pedagógico. Por dois anos, rodou por escolas menores, enquanto tinha como principal sustento as aulas particulares. Foi quando, em 1989, entrou no Colégio Santa Marcelina, bastante conhecido no lado oeste da capital paulista, à época com quase 1500 alunos, dos quais 350 sob sua tutela no ensino de História.
Professora de todo o ensino médio, tornou-se uma referência entre a docência, o que lhe garantiu, doze anos depois, o cargo de coordenadora da matéria no colégio, onde ficaria até março de 2011. Neste período, Sosa viu e agiu contra diversas mudanças que acabariam por minar a credibilidade de outrora do colégio. Mas contra a mudança daquele ano, ela nada pode fazer. O novo corpo administrativo integrou o Santa Marcelina a uma rede nacional, responsável por instaurar novos padrões de uniforme, conduta em sala de aula e, claro, do quadro de professores. Os mais antigos foram demitidos, e assim, Sosa deixava o lugar onde havia construído sua carreira por vinte e dois anos.
Bateu à porta de outros colégios, arriscou tentar em cursinhos, mas o alto salário pretendido era um empecilho aos empregadores. Depois de quase um ano tentando, veio o ostracismo, acompanhado por um sentimento de impotência, que a fazia duvidar da sua mais íntima capacidade.
As manhãs não eram mais diante dos quase cinquenta alunos de cada sala, mas bem longe deles. E foi nesse distanciamento que ela percebeu: aquela estrada que se acabava, abria ao lado um novo caminho. Um novo velho caminho. Ela deu voz a um de seus mais antigos desejos, soterrado pela profissão que aprendeu a amar.
Desde 2012, Cumuruxatiba, “onde o tempo não tem pressa, e a preguiça é mais gostosa”, é sua nova casa, e dela fez sua porta para o mundo. Atualmente está no Equador, onde deve ficar até desembarcar no Peru. Hoje, retomou um velho sonho: vive a história com os próprios olhos.

O claro! é produzido pelos alunos do 3º ano de graduação em Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo - Suplemento.

Tiragem impressa: 5.000 exemplares

Expediente

Contato

Av. Prof. Lúcio Martins Rodrigues, 443, Bloco A.

Cidade Universitária, São Paulo - SP CEP: 05508-900

Telefone: (11) 3091-4211

clarousp@gmail.com