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Queime (ou proíba) antes de ler

 

Por clarousp

 

De um segundo para outro, um livro é proibido. Mas o que fez o livro? Nada – ele só não é exatamente aquilo que alguns gostariam de ver na mão dos leitores. “É um mecanismo repressivo que, apesar de ineficaz, revela um esforço de ‘policiar’ o pensamento,” resume Luciana Lombardo, doutora em Antropologia pela UFRJ, com pesquisa sobre livros apreendidos pela polícia política do Rio de Janeiro.

 

O Segundo Sexo, de Simone de Beauvoir, é um exemplo – entrou para o Index Librorum Prohibitorum, editado pela Igreja Católica entre 1559 e 1966. Mas o Index não está sozinho na censura religiosa: sendo as religiões expressões de uma verdade, tudo o que contradiga seus dogmas pode ser proibido, explica Bruno Feitler, professor de História na UNIFESP. Elecomenta que as comunidades judaicas também controlavam livros, mas mais a nível de recomendação que de proibição. Outro título emblemático é Os Versos Satânicos, banido em países como Índia, Paquistão e África do Sul e cujo autor, Salman Rushdie, foi jurado de morte pelo Aiatolá Khomeini, do Irã islâmico.

 

Líderes de Estado, particularmente os soberanos, também podem impedir a circulação de conteúdos, se estes não os interessam politicamente. Por aqui, isso aparece na censura régia do Brasil colônia, segundo Feitler, e nos períodos ditatoriais, principalmente o Estado Novo de Getúlio Vargas (1937-1946) e a Ditadura Militar de 1964, em que vários volumes foram apreendidos e até queimados, em ambos “para combater sobretudo as ideias de esquerda e silenciar os dissidentes políticos”, conforme explica Lombardo.

 

Mas nem mesmo os períodos democráticos escapam da censura literária. Neles, pode entrar em cena a moral, evocada quando alguma temática é contrária aos costumes de um local ou pode influenciar negativamente um grupo. Lolita, de Vladimir Nabokov, por exemplo, foi banido na Inglaterra em 1955 e na França em 1956, entre outros países, por obscenidade e pedofilia.

 

Nem Branca de Neve escapou: em 2016, um exemplar foi retirado de uma biblioteca escolar do Catar pelo Conselho Supremo de Educação (órgão equivalente ao nosso Ministério da Educação), após um pai alegar que ele continha ilustrações ‘indecentes’. Enquanto isso, o cerceamento à livre circulação de ideias segue. Resta saber onde – e se – ele vai parar.

O claro! é produzido pelos alunos do 3º ano de graduação em Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo - Suplemento.

Tiragem impressa: 5.000 exemplares

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